sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

QUOUSQUE TANDEM

Vergonha, traição, mentiras, engodo, prevaricação, corrupção, roubo, propina, cartel, quadrilha, falsidade, lama, cobiça, eis a Pátria ultrajada. Toda sociedade perplexa com uma traição praticada justamente por aqueles que juraram solenemente defenderem seus legítimos interesses. O Congresso Nacional sangra numa UTI, ferido fulminantemente pela vergonhosa conduta de seus membros. O Poder republicano fragilizado, ultimando-se e agonizante, refugia-se nos delírios pueris e na retórica enganosa de seus arautos. Na planície, carpideiras choram lágrimas de sangue enquanto o povo atordoado procura enxergar a menor chama da esperança. A representação política esquartejada, com fraturas expostas. Odores putrefatos e vísceras gangrenadas poluem os salões palacianos. Quosque tandem abutere Catilina patientia nostra?

segunda-feira, 25 de dezembro de 2017

O ARTESÃO DO CARIRI

SEBASTIÃO MATIAS Uma sombrinha de praia desbotada, uma pequena mesa tosca de metal protegendo alguns toros de imburana bruta e seca encimada por diversas esculturas talhadas na madeira compõem o atelier e a moradia de Sebastião Matias. Ali naquele arremedo de habitação vive com a mulher Maria. Quem é Sebastião Matias? Sebastião Matias é um escultor de muito talento, um autodidata da escultura em madeira. Filho dos Agricultores Manuel José Cordeiro e Francisca Matias, nasceu no sítio Capim Grosso, no município de Itaporanga, no dia 19 de agosto de 1950. Escolaridade? Responde com certo desdém: Nunca freqüentei uma escola. Sabe apenas assinar o nome, o suficiente para tirar o título de eleitor. De comportamento nômade morou em várias cidades do Sertão e do Cariri, Patos, Juazeiro de Padre Cícero, Campina Grande, Juazeirinho e agora em João Pessoa. A primeira infância se passou no sítio onde nasceu e aos 10 anos descobriu que tinha pendores para a arte de talhar a madeira. É diabético, canhoto e tem uma perna amputada. Como aconteceu? pergunto com certo receio. Descuido. Me descuidei e aconteceu, tive que amputar quando eu tinha 54 anos. Hoje estou com 58 anos sou católico, temente a Deus e espero pouca coisa na vida, pelo menos uma casa para morar. Sou casado há 20 anos com essa mesma mulher Maria. Com ela tenho dois filhos, Danilo e Sebastião. Sebastião (filho) está começando a trabalhar a madeira, leva jeito. Esse cavalo marinho é dele, o golfinho é dele, o tubarão é dele, essa mãozinha segurando o coração é dele. Aponta as peças expostas sobre a mesa junto com outras de suas produções. Sebastião (filho) se encanta com os seres vivos e natureza, eu exploro mais as formas curvas dos corpos humanos e imagens do santos. Danilo não quer saber de nada. Está na escola, por enquanto, também tem só 13 anos. A quem quiser seguir esta profissão eu diria que precisa ter muita perseverança e se conscientizar que não vai trilhar uma estrada de rosas, mas vai encontrar muitos espinhos e experimentar muitas dificuldades. No fundo no fundo compensa quando vejo a obra concluída e sendo objeto de admiração. Não tenho pretensão de divulgar nenhuma mensagem em minhas obras nem seguir nem fazer escola, vou esculpindo e improvisando. Não projeto minhas peças, vou entalhando a madeira de acordo com o que ela sugere no seu estado natural e só Deus sabe o que vai ser no final. Não sei precisar até hoje quantas peças talhei. Sei que foram muitas, milhares. Sempre uso a imburana que me é fornecida por um amigo de Juazeirinho. Acho melhor de trabalhar. Em média levo uma semana para talhar uma peça de tamanho médio como esta – aponta uma pequena estatueta de aproximadamente 30 cm de altura e pouca complexidade espacial. Muitas delas estão no Japão, na Alemanha, na França e em Portugal. Meus maiores clientes são estrangeiros. A maior que produzi foi comprada por Burity e está exposta no Mercado de Artesanato, em Tambaú, custou 6.000 cruzeiros. A segunda peça de maior valor quem comprou foi um francês que a levou para Paris custou 4.000 cruzeiros. Não recebi ajuda nenhuma de nenhum governo. Até hoje não tenho uma casa para morar. O Governador Cássio tem demonstrado que quer ajudar aos artistas da terra, mas parece que certas pessoas ao seu redor não apresentam a mesma vontade a não ser sua mulher D. Silvia que tem dado muita atenção aos artesãos. Acho ruim por que ele está recebendo muita pressão do outro que foi governador. Acho que é inveja e não querem que ele trabalhe direito do jeito que ele sabe e cresça como merece. Gostaria muito de poder um dia conversar com ele (Cássio) e dizer isso e também pra ver se eu consigo uma casinha aqui em João Pessoa, ali no Renascer, quem sabe??!! Sebastião protagoniza a história de muitos artesãos paraibanos que esbanjam talento, mas vivem no anonimato a espera de uma oportunidade.