segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Romeiros da Penha

Ontem pela manhã, a pedido do amigo Luis Conrado, fomos à praia da Penha. O Santuário estava ainda freqüentado pelos remanescentes fieis que reverenciaram a Santa na noite anterior.
Pude registrar uma cena de demonstração da fé.
João Leôncio, que tem a alcunha de João Feitor, saiu de Canaguaretama às 5:00 da madrugada para cumprir e pagar uma promessa por uma graça alcançada.
Com seus setenta e poucos anos, genuflexo degrau por degrau, subiu as escadas até o pequeno altar da Santa.
Registrei para a posteridade vários momentos dessa empreitada. Desde os primeiros movimentos até a chegada triunfal ao altar. Conversei com ele alguns minutos e pude sentir a enorme satisfação e o alívio pelo dever cumprido. Não sei se ele pagou a dívida por ato de contrição ou simplesmente por estar pleno de alegria.
A devoção de João Feitor, entretanto me trouxe uma interrogação.
Até onde pode nos levar a fé?
O grande Gilberto Gil nos ensina que “a Fé não costuma faiá...e vai onde quer que eu vá”.
Sei que ela se manifesta de forma unilateral e assim como a esperança são faculdades da alma, manifestações do sentimento.
“Fé é acreditar em coisas que se esperam, a convicção de fatos que se não vêem, independentemente daquilo que vemos, ou ouvimos” – Hebreus 11:1.
A Fé pode nos trazer a paz que tranqüiliza, a esperança que multiplica as forças, a energia para percorrermos os caminhos da vida, a bondade que quebra as arestas, o perdão e a justiça.
Quem viu jamais a Fé?
Quem lhe conhece a forma ou a cor?
Ninguém. Entretanto ninguém pode lhe negar a existência, nem desconhecer seus efeitos.

sábado, 28 de novembro de 2009

Paraibanês I

Em cada região brasileira a língua portuguesa sofreu diferentes influências culturais, e por isso incorporou diferentes formas de expressão para designar uma mesma idéia ou sentimento ou mesmo um conceito. É o regionalismo. Particularidades lingüísticas decorrentes da cultura do povo ou o traço cultural de cada região.
Em nosso pequenino e heróico Estado da Paraíba identifica-se um rico arsenal de verbetes cujo significado é limitado às fronteiras da região nordeste.
Ontem pela manhã vi uma camisa num mercado de artesanato ostentando um selo com inscrição de alguns desses vocábulos e anotei alguns que passo a divulgar para satisfazer a curiosidade de alguém que porventura esteja lendo este registro.
Noutra postagem devo divulgar o significado de cada uma.

Aguado, Amuado, Apurrinhar, Ariado, Arisia,Arretado, Arripunar, Arrochado,Arrombado, Avexada, Aguado, Amuado, Apurrinhar, Ariado, Arisia, Arretado, Arripunar, Arrochado, Arrombado, Azogado,Bambo,Birô,Boiar,Brebote,Bulir,Butico,Catabi,Catraia, Catrevagem, Disunerar, Donzela, Empaxado, Engalhado, Entôjo, Estoporado, Fiteiro, Folote, Fubenta, Fubento, Fulera, Furico, Guaribada, Guelar, Imburacar, Incangado, Incriquiado, Infitete, Ingrisia, Intupido, Inxirido, Isonô, Leriado, Magote, Malamanhado, Mangar, Marmota, Miaeiro, Moído, Mulesta, Munganga, Oxente, Pabulage, Pantim, Parreco, Peinha, Peitica, Piola, Pipôco, Pitoco, Ponche, Presepada, Puxavanco, Quenga, Rabissaca, Reimoso, Ronceiro, Sibite, Sustança, Talagada, Toitiço, Tronxo, Tuia, Xexeiro

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

O turista e o viajante.

O turista é escravo da mídia. Segue religiosamente o que está posto nos guias. Contenta-se tão somente numa visita rápida em cada local descrito nos anúncios publicitários e em registrar algumas fotos.
Não descuidam de uma ida obrigatória aos shoppings centers onde compram compulsivamente o que precisam e o que não precisam, e pronto. Não há fruição, não há troca.
O viajante ao contrário, constrói seu caminho e seu momento. Experimenta uma relação de troca simbólica com as pessoas do lugar. Procura se envolver com a comunidade visitada, conhecer sua história seus hábitos e costumes. Observa as relações das pessoas com sua comunidade. Para estes comprar não é uma prioridade, mas uma eventualidade ocasional.
O turista segue as estrelas. Não aqueles que lhe indicam o norte, mas as que classificam o ranking dos hotéis e restaurantes.
Ao viajante não importa o luxo, mas o conforto e a simplicidade desde que lhes aproximem das pessoas.
A prioridade é conhecer as pessoas, suas particularidades, sua história e sua cultura.
Estes absorvem o povo e aqueles o shopping.
Além do mais, do ponto de vista financeiro, há uma relação direta de causa e efeito entre os custos do turista e do viajante.
Sem sombra de dúvidas um programa sugerido pelo trading turístico certamente é bem mais caro do que o do viajante.
O turista naturalmente se alegra e se encanta com as novidades encontradas enquanto que o viajante enriquece com o aprendizado das viagens.
Portanto, viaje. O importante é cruzar fronteiras, viajar, sair, interagir, conhecer, experimentar e compreender.
Viaje expanda seus horizontes, supere seus limites e volte uma pessoa melhor, mais sábia e comprometida com o futuro do planeta.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Estrangeirismos

Não se consegue sair de casa sem ser atacado por uma tempestade de palavras estrangeiras que estão invadindo nosso idioma alastrando-se como uma epidemia.
Trata-se de um recurso lingüístico utilizado com freqüência por jornalistas e publicitários sem imaginação que poluem nossa comunicação.
Basta olhar em volta.
Aliás, não se dá uma volta pela cidade, se faz um city tour.
Os apelos publicitários estão nos out-doors: For sale, Rent a car, free, boton,happy end, recall.
As lojas não dão mais descontos de liquidação; é tantos por cento off.
Os anglicismos estão em todo lugar.
De manhã você vai a um fitness encontrar-se com seu personal trainner saindo cedo para evitar a hora do rush.
Depois num drive thru, toma seu coffe break um hot dog diet e no almoço vai a um self service ou fast food e pede um grill com ket chup acompanhado de um drink on the rocks que é muito fashion.
Deixa seu carro num car wash e no playground do flat assiste a um wokshop no seu home theater. Atualiza seus emails, faz um down load de algumas news que lhe interessam e em seguida vai à suíte master para um breve descanso .
Nosso único patrimônio vivo está na UTI, em fase terminal pronto para morrer e dar lugar a um novo idioma. Quem viver verá.

domingo, 22 de novembro de 2009

Meu refúgio.

Meu refúgio é voltado para o Norte.
Não é grande nem luxuoso, mas suficientemente espaçoso e acolhedor.
Não tem todo conforto do mundo, mas tem o conforto que preciso.
Aqui vivo meus sonhos e minhas fantasias.
São quatro paredes brancas adornadas com meus livros, fotos dos meus antepassados e vultos da história a quem reverencio e admiro, uma bem humorada caricatura do velho Einstein, registros dos ex- Presidentes Juscelino e Fernando Henrique, lembranças de Gandhi, Raul Seixas e Gonzagão. Gravuras dos meus amigos Régis Cavalcante e Flávio Tavares, o “Habeas Pinho”, do poeta Ronaldo Cunha Lima e uma colagem primorosa de Maria José Araújo, saudosa artista plástica campinense de indiscutível talento.
É aqui que realizo meus encontros diuturnos com os amigos e onde a ociosidade faz sentido.
É aqui o palco privado de minhas emoções onde a verdade vagueia e a mentira é falsa, onde exorcizo as mazelas do mundo e todos os demônios.
Nele viajo no tempo e no espaço sem destino nem hora marcada e minhas opções se multiplicam: escolho, rejeito, repito, apago a acendo.
Mergulho numa exaltação de Haendel ou me enlevo numa virtuosa carícia musical de Sivuca. Ambos provocam emoções que conduzem a Deus por um caminho sem obstáculos nem fronteiras.
Meu refúgio é sólido e aconchegante e será eterno enquanto durar.

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Um servo do Senhor.

“Feliz o homem que teme o Senhor, e põe o seu prazer em observar os seus mandamentos.” - Sl 111.1

Ao contrário de minha mulher, sou um freqüentador relapso da igreja. Aliás, minha religiosidade resume-se e exprime-se nas ações. Em minhas relações na comunidade e principalmente com o próximo procuro, na medida do possível, pensar e agir obedecendo aos preceitos cristãos de amor, fraternidade, solidariedade e, sobretudo respeito.

Mesmo não sendo um exemplo de cristandade, o que não inviabiliza minha condição de católico e temente a Deus, vou à igreja em momentos especiais e foi assim, numa dessas ocasiões, que conheci o Padre Antônio Kemps.

Com ele tive uns poucos encontros sociais. Uma vez numa feijoada para arrecadação de fundos e outra vez numa festinha de São João promovida pelos paroquianos.

Rápidas conversas, mas o suficiente para descortinar e conhecer um pouco da preciosidade escondida no cidadão Antonio Kemps.

Pouco a pouco fui sendo conquistado pela personalidade forte e irrequieta daquele pároco.

Um ser humano notável!

Recentemente li um boletim editado em comemoração aos 50 anos de sua vida sacerdotal.

Soube que nasceu na Bélgica, no dia 13 de agosto de 1934, e puseram-lhe o nome de Antoon Armand Kemps, filho de Clemant Kemps e Elisa Peeters, para nós o Padre Antônio.

Foi ordenado em 12 Julho de 1959 e trabalhou como padre durante doze anos na Bélgica.

Em 1971 resolveu vir para o Brasil e iniciou seu trabalho missionário no Nordeste Brasileiro, desembarcando no dia 16 de março, desse ano, em Recife.

Em 1971 trabalhou em Cabedelo juntamente com o saudoso Padre Alfredo Barbosa. Em 1973 mudou-se para Itabaiana onde permaneceu por 27 anos sendo lá agraciado com o título de cidadão Itabaianense como reconhecimento de sua operosidade e relevantes serviços prestados à comunidade.

Sua carreira eclesiástica tem seqüência sendo designado por D. José Maria Pires como Ecônomo na Cúria.

Foi Capelão da Maternidade Cândida Vargas e do Bom Pastor.

Em 2001 veio para o nosso bairro, o Bessa, que agora insistem em chamar de Jardim Oceania, como Administrador Paroquial. Em dezembro de 2005 foi designado Pároco da Paróquia Nossa Senhora Auxiliadora, pelo Arcebispo D. Aldo Pagotto.

Na administração da paróquia adotou medidas para democratização das ações e instituiu novas pastorais. Sua imaginação criativa não parou ai. Preocupou-se também com outras atividades como a fundação do jornal “o Auxílio” um instrumento de comunicação e evangelização.

É aqui, em nossa paróquia, que o Padre Antonio revelou outras de suas inúmeras qualidades: o destemor e um invejável espírito empreendedor.

Com recursos reduzidos e muita coragem transformou a Capela que mais parecia um armazém numa Igreja. Modificou toda arquitetura externa do prédio e implantou um projeto belíssimo que deixa os fies orgulhosos de sua Igreja. Destaque para um vistoso obelisco no hall de entrada com a função de campanário onde um sino majestoso todo dia convida os fieis à oração.

Tenho certeza que Padre Antonio deve sentir-se um homem muito feliz e em paz consigo mesmo por ter identificado sua missão na terra e cumpri-la com muito amor e competência.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

O bolero de Ravel.

Em que pensava Ravel quando compôs seu famoso bolero?


Numa cavalariça, chamas num incêndio, num orgasmo, talvez?

Poderia ter pensado numa rebelião, numa invasão, numa retirada.

A composição comporta qualquer emoção, uma ilação qualquer. Desde reações contemplativas à inquietação. Permite viagens onde o pensamento possa levar. De uma sinagoga a um kibutz, de um sonho fantasioso a uma manifestação surrealista.

Com sua melodia Ravel, que tinha inigualável habilidade para orquestrar, materializou sentimentos endógenos. Mixou fusas e semifusas para expressar um grande gemido um frenético clamor.

Na realidade Maurice Ravel compôs sua obra prima pensando numa mulher, a bailarina Ida Rubinstein.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Andanças de um extraterrestre.

Vi o sorriso do mundo, nos olhos de uma criança, que são as janelas da vida...

Um ser adulto fitando-me com superioridade me disse:

Posso e quero.

Configurou-se a mácula do universo, a ganância, a prepotência, o consumo.

Num cenário tétrico estilizado por uma hedionda coreografia, vi destilar os conflitos entre os povos, a fome, a desigualdade, o analfabetismo, a mortalidade infantil, representado em vários atos, um peça trágica sobre as patologias sociais.

Busquei abrigo no convívio entre os homens, tropecei na ansiedade, na desconfiança, na corrupção, no desamor e na traição.

No meio do caminho, imaginei encontrar uma proteção na espiritualidade, e além da fronteira, além do homem e do universo, vislumbrei um caleidoscópio de mitos, rituais, crenças e misticismo, a procura da verdade, quando ela estava, bem ali, bem perto.

Concluí então que nunca deveria ter deixado minhas origens.

Foi quando novamente fitei os olhos da criança, e na sua luz senti a ESPERANÇA.

domingo, 15 de novembro de 2009

Ad limina apostolorum

Enquanto espero a chegada de Pollyana, a noiva de Dito de Ovídio, leio despreocupadamente o informativo “Caminhando Juntos “, da Arquidiocese da Paraíba.

Aqui um artigo do arcebispo D. Aldo sobre a legalização dos jogos de azar, ali outra matéria sobre os malefícios do fumo, de responsabilidade da Drª Zilda Arns. Entre outras matérias paroquiais um destaque especial sobre a visita “ad limina apostolorum”, que nada mais é do que um encontro dos bispos com o Papa, a cada cinco anos.

A notícia é divulgada com farta documentação fotográfica focalizando nosso Arcebispo Dom Aldo de Cillo Pagotto sendo recebido pelo Papa Bento XVI.

Como sempre sua excelência reverendíssima não recusa nem abandona sua idéia de estrelismo.

Mas deixando de lado o estrelismo do Dom Pagotto, prefiro comentar o discurso do Papa Bento XVI, inserido no informativo, proferido no dia 17 de setembro, no Palácio Apostólico de Castel Gandolfo, ao recepcionar os bispos.

As reflexões de Sua Santidade foi um libelo à organização da igreja organicamente estruturada como Corpo de Cristo. Nessa perspectiva o Papa reclama categoricamente a necessidade de se evitar a “secularização dos sacerdotes e a clericalização dos leigos”. Cobra o comportamento dos fieis leigos para que exprimam na realidade, inclusive através do empenho político, a visão antropológica da Igreja. E cobra dos sacerdotes para que estes se afastem de um engajamento pessoal na política, favorecendo desta forma a unidade e a comunhão de todos os fiéis e assim poder ser uma referência para todos.

De fato ao fazer uma opção político-partidária o sacerdote cria, no seio de sua comunidade, uma área de divergência que dificulta sua ação evangélica.

O recado do Papa foi cristalino. O papel do sacerdote é o de pastor, testemunha da autenticidade da fé e dispensador, em nome de Cristo, dos mistérios da salvação.

O Papa enfatiza que o ministro ordenado é o laço sacramental que une a ação litúrgica aquilo que disseram e fizeram os Apóstolos. Argumenta que a função do presbítero é essencial e insubstituível para o anúncio da Palavra e a celebração dos Sacramentos, sobretudo a Eucaristia e acrescenta que é preciso que os sacerdotes manifestem a alegria da fidelidade à própria identidade com o entusiasmo da sua missão.

Aqui pra nós, sempre achei meio esquisito essa questão de padre na política.

Ao fazer uma opção política o padre toma partido e tomar partido é incompatível com o ecumenismo da Igreja.

Com a palavra, frei Anastácio e os Padres Adelino e Luiz Couto.

sábado, 14 de novembro de 2009

O casamento

Todo final de semana é um casamento.


Ontem foi de Dito, filho de minha amiga Ana Maria e Ovídio.

Mesmo sendo laico, de tanto assistir esta cerimônia, já fico programado para as seqüencias do cerimonial.

Primeiro você tem que ter certa cautela para não se estressar com a questão do horário.

Já é uma cultura a noiva atrasar ao compromisso. Uma hora no mínimo.

Você tem duas alternativas. Se for daqueles que não dão a mínima pra essa questão de tempo vá no horário programado e aproveite para papear com os amigos. Caso contrário saia de casa com uma hora de atraso ou encaminhe-se direto para o local onde os noivos recepcionarão os convidados (melhor opção).

Ao ouvir os acordes do fundo musical é o sinal que o espetáculo começou.

A entrada dos padrinhos, primeiro da noiva depois do noivo.

Em seguida entra o noivo seqüenciado pelas pajens pavimentando a passarela com pétalas de rosa para a entrada triunfal da noiva.

Depois um casal de crianças vestidas como adultas conduzem as alianças.

Então o Padre começa aquele bla bla bla, aceita? Aceito! Pode beijar a noiva. Pronto.

Aí vem a sessão das fotos. Um teste de paciência. Tudo é registrado para a posteridade. A mão da noiva, o pescoço da noiva, o bigode do noivo, se tiver, os anéis, os tios, os primos, os irmãos, os cunhados, os enteados, enfim toda comunidade que tenha ligação direta ou indireta com os recém casados.

Finalmente, uma vez ultrapassadas todas as formalidades, vem a recepção.

Ai você tem que entender um pouco de estratégia militar e antes de tudo procurar fazer amizade com os garçons para que sua mesa esteja sempre servida a tempo.

No mais esperar a chegada dos recém casados para os cumprimentos de praxe e consumatus est.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

O Apagão elétrico.

Itaipu Binacional, a segunda maior usina hidrelétrica do mundo, colapsou.

O País inteiro foi surpreendido com um apagão elétrico de proporções assustadoras.

Mesmo que as autoridades governamentais insistam em minimizar o problema foi o maior desastre jamais registrado na história deste País.

Aproximadamente 60 milhões de pessoas sofreram durante sete horas as conseqüências da falta de energia.

Em 18 Estados, mais de 800 cidades ficaram sem luz. Hospitais, centrais de abastecimento, rede bancária, metrôs, todas as atividades urbanas foram prejudicadas com o desastre. Somente em São Paulo, a maior cidade do País, cerca de 5000 semáforos ficaram desligados.

Não se sabe avaliar a quanto monta os prejuízos.

Até o momento não se tem uma explicação clara e segura sobre a causa ou causas do acidente.

Uma coisa, entretanto ficou bastante clara: a vulnerabilidade de nosso sistema elétrico.

Nossa matriz energética parece prescindir de um novo arranjo que lhe condicione maior confiabilidade.

A geração e o transporte de grandes blocos de energia são vulneráveis aos agentes da natureza e note-se que não somos atingidos por furacões nem terremotos.

O apagão elétrico só se nota facilmente com a escuridão. Mas existem outros tipos de apagão de conseqüências muito mais devastadoras. Aqueles que ocorrem em plena luz do dia.

O apagão moral, o apagão da saúde, o apagão da educação, como denunciou ontem, com muita propriedade, o senador Cristóvão Buarque.

O apagão elétrico volta à normalidade uma vez sanada a causa que o provocou.

Os outros são ultrajantes e corroem a cidadania. São permanentes e sem perspectivas para terminar.

São resultantes da falta de caráter que predomina a grande maioria de nossos homens públicos e do descrédito de nossas instituições.

Enquanto o povo não aprender a escolher seus governantes continuaremos a ser o país do samba e do futebol. Nossa capital continuará sendo Buenos Aires e o mundo todo continuará imaginando que andamos de tanga na selva Amazônica e que nos comemos uns aos outros. O que de certa forma, não deixa de ser verdade.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Coisas ao leo.

- Evaristo, como faço para chegar à Liga dos Operários?


- Não tem errada, siga pela rodovia que liga Campo Verde a Penacho.

- Como devo me apresentar?

- Pode ir como quiser, use apenas uma liga para amarrar os cabelos, ninguém liga.

- Agora liga o rádio para ouvirmos as notícias.

São coisas ditas ao leo.

Como colocar colírio no olho da rua e depois escovar os dentes da boca da noite.

Caminhar sobre estrelas do céu da boca com as pernas de pau e os pés de chinelos.

Cuidar da aparência lavando os cabelos da cabeça de prego e pintando as unhas de fome.

Cortar as unhas da mão de ferro vestindo as meias nos pés de vento.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

A lógica de Lula.

O amigo Eduardo Magalhães, cientista político, enviou-me, de Maceió, uma “pérola” da produção presidencial.

Um vídeo com dois discursos do Presidente Lula. Duas falas sobre o mesmo assunto. A questão do assistencialismo.

A fala do Presidente assume conotações contraditórias acudindo ao seu interesse pessoal.

Primeiro numa cerimônia, em Belo Horizonte, o Presidente condena contundentemente os críticos do bolsa família. Argumenta tratar-se de um excelente programa social de combate à fome e a pobreza. Não enxerga na política adotada por seu governo o menor vestígio de assistencialismo ou de embromação demagógica para anestesiar as classes menos favorecidas e perpetuar seu prestígio.

O segundo discurso é uma gravação feita no ano 2000. Nessa fala, o então Presidente de Honra do PT, critica com veemência a política social do governo alegando justamente os mesmos argumentos utilizados pelos críticos do Bolsa Família.

Lamenta que o povo brasileiro é induzido a pensar pelo estomago e não com a cabeça. E argumenta que é por isso que os candidatos distribuem tickets de leite, vale refeição e outros benefícios como moeda de troca na época de eleição.

Acrescenta que o povo é tratado como Cabral fazia com os índios quando chegou ao Brasil, distribuindo bijuterias e espelhinhos e outras bugigangas. Tudo urdido para perpetuar a política de dominação que é secular, no Brasil, segundo o entendimento presidencial.

Muito interessante a lógica presidencial.

Quando eu faço está correto. Se for você quem faz é enrolação.

É a lógica da contradição.

Faça o que eu digo, mas não o que faço, é a conclusão.

Cabe a pergunta: quem está certo o Presidente ou o candidato.

Como candidato ele execrava o assistencialismo.

Como Presidente ele cultua.

É uma pena que as palavras ditas caiam no esquecimento com tanta facilidade.

sábado, 7 de novembro de 2009

A rameira e o Monsenhor.

Valdemir Bezerra era uma pessoa maravilhosa. Um ser humano notável. Bem humorado e um dos os papos mais agradáveis que já tomei conhecimento. Grande prosador. Uma conversa com Valdemir tinha gosto de maná do céu.

Almoçávamos no Hotel Vila do Príncipe, em Caicó. Valdemir lembrou que ali fora o berço natal do Monsenhor Walfredo Gurgel. Sacerdote, educador e político. Foi Deputado Federal, Senador e Governador do Estado. Também diziam que tinha uma queda pelos “rabos de saia”. Conta Valdemir que certa vez um sujeito espertinho, malandro, sabedor do lado conquistador do sacerdote urdiu a seguinte peça: deu um banho de loja numa meretriz alencarina, uma morena nova, bonita e com seios avantajados. Sapecou-lhe um vestido com um decote ousado, uma saia bem justinha para realçar suas curvas, pernas grossas, cintura fina, um “pitel”. Tentou e conseguiu uma audiência com o padre governador. A moça, apresentada como sendo esposa do vigarista, sentou-se numa cadeira em frente à mesa dos despachos, com as pernas cruzadas numa postura propositadamente provocadora.

O malandro argumentava que era recém casado e passava dificuldades e queria um emprego etc. e tal.

A “esposa” cruzava e descruzava as pernas, maliciosamente, sob o olhar sorrateiro do governador.

Passados alguns dias encontram-se numa solenidade qualquer.

O malandro, agora servidor público, cumprimenta o governador.

- Como vai Excelência?

- Vai tudo bem. Você com seu emprego, sua puta com meu anel e eu com uma bruta blenorragia.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Cheque nominal.

João Pessoa tinha um calendário festivo profano e religioso muito rico.

A Festa das Neves, a Festa da Cebola, a Festa de São Gonçalo, enfim um calendário formidável de eventos populares que movimentavam a vida social da cidade.

Uma dessas festas, acontecia no Roger, em homenagem a Santa Terezinha, ali perto da gameleira. Festa típica de rua. As barracas de cachorro quente, jogos, o pavilhão central, leilões, a difusora com mensagens de amor,... “atenção, atenção alguém trajando uma calça azul, outro alguém que não te esquece oferece esta página musical como prova do seu amor”. Eram fórmulas barrocas de cantadas eletrônicas. Início de grandes idílios e grandes amores.

Lá fomos nós, eu, Beba, e alguns companheiros da Escola de Engenharia, Hélio Vicente (Pescocinho), Pedro Gomes de Lyra (Pato Louro), Edmundo Sebadelli, entre outros. Sentamos numa mesa muito mal colocada, a única disponível, lá no fim do pavilhão. Um sufoco chegar um garçom. Quando pedimos a conta foi uma eternidade de espera.

- Vamos embora, assim eles aprendem a nos dar um pouco de atenção.

Saímos sem pagar. De repente uma mensagem na difusora. Era o pároco. Um desses missionários estrangeiros, acho que alemão.

- Querro lembrarr a esses garrotos que acabam de sair que esquecerram de pagar o conta. Venham pagar que esse dinhero é do santa. Repito é parra o santa.

- Temos que voltar. Já pensou se acontece alguma coisa conosco, um castigo dos céus. Era o pensamento comum do grupo. Tomei uma decisão:

- Podem deixar vou cuidar do assunto.

Voltei e paguei a conta com cheque, já que eu era um dos poucos do grupo que tinha talão de cheques. Mas preenchi nominal à Santa Terezinha. Imaginem a confusão.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Ciladas.

Ciladas.


Dorofeja, uma jovem ucraniana, acabara de chegar ao Brasil e já dominava nosso idioma com certa desenvoltura considerando o pouco tempo de aprendizagem.

Num albergue da juventude conversava amistosamente com seu amigo Cassimiro.

- Doró, eu, sem querer, quebrei a manga.

- Quebrou ou rasgou?

- Quebrei.

- A manga a que me refiro é aquele envoltório tubular que protege o candeeiro e não a parte do vestiário.

- Como quebrou?

- Estava chupando uma manga e de repente, zum, o caroço escapuliu como uma bala.

- E você come vidro?

- Não cara, a manga agora é uma fruta, muito deliciosa, por sinal.

- Outro dia, galopando, atravessei uma manga e vapt, esborrachei-me no chão.

- Com é que é? Você montava uma fruta?

- Não Doró, galopando num pasto para animais.

- Ahn... Que língua!

- Que é que t em a língua vê se não manga.

- Hein... ?!%

- Não deboche.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Topônimos e futricas.

João Pessoa foi meu segundo lar.

Foi aqui que eu consegui régua e compasso.

Uma paixão a primeira vista. Uma simbiose frenética.

Me constrange a insistência de certas pessoas em querer modificarem-lhe o nome. Pessoas barulhentas, míopes, de visão distorcida sobre os interesses da cidade.

Comentei este tema na coluna do meu amigo e brilhante jornalista Abelardo Jurema Filho (Abelardinho), num pequeno artigo intitulado: TOPÔNIMOS E FUTRICAS.

Vez por outra surgem manifestações isoladas sugerindo uma mudança no nome de nossa Capital. Uma discussão estéril e extemporânea, sem o menor interesse público.

Ora, após tantas décadas que esta cidade denominou-se João Pessoa alguns “iluminados” com intenções não muito claras procuram chamar a atenção defendendo uma tese inútil como se não existissem outros problemas de maior importância para ocupar nossas preocupações. Ultimamente tenho registrado algumas insatisfações, normalmente das mesmas pessoas, que levantam uma bandeira para que seja permutado o nome de nossa capital com argumentos pobres e infundados de origem política, de família, ou outra vertente, não entro no mérito nem discuto as razões que motivam essas pessoas a esse tipo de questionamento.

O nome, João Pessoa, existe há mais de 77 anos, consolidado sobre todos os aspectos na historiografia nacional.

Deixando de lado a discussão que julgo fora de propósito faço um convite a um pequeno exercício de ordem prática.

Vamos imaginar que esta mudança de nome fosse consumada.

Quais as conseqüências imediatas advindas dessa decisão?

Vamos nos ater apenas aos custos financeiros.

Toda produção gráfica existente até o presente, com o nome de João Pessoa teria que ser modificada.

Os livros didáticos teriam que ser reeditados com o novo topônimo e assim as cartas oceanográficas, placas de veículos, bancos de dados dos órgãos oficiais e privados, papeis timbrados das empresas e profissionais liberais, apenas para citar alguns exemplos.

Pergunta-se: toda esta onerosissima trabalheira em troca de que?

Que benefício para a cidade e seus habitantes esta medida traria?

Nenhum é claro.

Temos importantes problemas com que nos preocupar, como a questão da violência urbana, do desemprego, da falta de habitação, do trânsito desordenado, entre outros. Basta de questiúnculas!

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Nego Fuba

Tive um pequeno problema com o antebraço. Coisas da idade.


Sábado pela manhã fui atendido com muita simpatia e competência pelo jovem médico Dr. Jordano, na Clinor.

Durante a consulta a conversa desviou para outros assuntos quando lendo minha ficha o Dr. Jordano verificou que sou natural de Taperoá. Falar em Taperoá obrigatoriamente lembra ilustres personalidades como Dorgival Terceiro Neto, Manuelito Vilar, Balduino Lélis.

Contei-lhe que em tom de brincadeira o cidadão do mundo, meu amigo e conterrâneo museólogo Balduino Lélis contou-me que em Taperoá existia um popular chamado “nego” Fuba. Segundo Balduino o “nego” Fuba era a pessoa mais burra da cidade. Fazia versos. Certa vez perguntaram-lhe sobre um mistério. Como é que Nossa Senhora pode ser virgem se ela pariu Jesus. Nego Fuba saiu-se com esta:

Nossa Senhora é virgem

É virgem e cheia de graça

É como o sol que atravessa a janela

E não quebra a vidraça

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

O DISCURSO.

Lexicamente o discurso é uma exposição metódica cobre certo assunto ou ainda a exposição de idéias, de viva voz ou por escrito.

Considero como uma estratégia de comunicação e convencimento utilizada ao longo da história, por poetas, governantes, profetas, líderes revolucionários, cientistas, filósofos, enfim, por homens e mulheres que vivenciaram ou protagonizaram momentos decisivos da

história da humanidade.

Não quero escrever um discurso por isso vou direto ao assunto.

Há discursos fascinantes que traduzem paixões, grandezas e traições.

Outros registram peças inenarráveis como o discurso proferido por Péricles, há 2500 anos, defendendo um novo regime que acabara de surgir no mundo – a democracia.

Tutancâmon, faraó egípcio (assumiu aos 10 anos até os 19 anos) quando talhou um discurso na “Estela da Restauração” defronte o templo de Karnak, utilizando a equação do poder: conquistar o poder e manter o poder. No discurso o faraó olha para o retrovisor como fazem atualmente nossos governantes e debita os desacertos de seu governo às administrações anteriores.

Discursos de humilhação e tristeza como do navegador genovês Cristóvão Colombo, implorando, por carta, aos reis da Espanha, Fernando e Isabel dois anos antes de sua morte esquecido e na miséria, em Valladolid.

Caractaco, derrotado após lutar com os romanos, é feito prisioneiro e enviado à Roma. Fez um discurso que é uma excelência de síntese, argúcia e resultado, conseguindo persuadir o Imperador Romano Cláudio (41 a 54 a.D.), a libertá-lo como também a sua mulher e irmãos.

O célebre discurso político feito pelo personagem Marco Antônio na peça “Julio César” do poeta e dramaturgo inglês William Shakespeare, quando incitou a multidão contra os assassinos de César.

Galileu Galilei, matemático e físico italiano, levado a julgamento pela Inquisição por afirmar que a Terra girava em torno do Sol e não era o centro do Universo, contrariando a Igreja. Foi obrigado a negar, condenado a viver em prisão domiciliar até o fim de sua vida e a repetir, semanalmente, por 3 anos, os sete salmos penitenciais. Dizem que após o discurso murmurou: eppur se muove... ( e no entanto se move...).

Discursos antológicos como do pastor Martin Luther King contra a segregação racial nos Estados Unidos e do nosso saudoso Mário Covas, proferindo uma das maiores provas de coragem pessoal e de resistência ao regime militar quando tentou-se processar o Deputado Márcio Moreira Alves e cujas notas taquigráficas só foram resgatadas 32 anos depois.

Falar de modo objetivo vai muito além das regras da gramática ou de expressões da moda. Exige honestidade, humanidade e confiança da parte de quem fala.

Segundo Shakespeare “os homens de poucas palavras são os melhores”.

E de poucas palavras não há como esquecer o discurso do gênio do surrealismo, o pintor catalão Salvador Dali (Salvador Domingos Felipe Dali i Doménech): Serei breve, portanto, já encerrei”, e sentou-se.

domingo, 1 de novembro de 2009

estaleiro

Infelizmente hoje não haverá postagem.
Estou no estaleiro  com o braço imobilizado por uma pequena luxação e digitanto só com o dedo da mão esquerda.
Devo passar quatro dias nesse ostracismo forçado.
Volto na próxima quarta.
Um abraço