quarta-feira, 31 de março de 2010

A burocracia.

“Burocracia atrapalha. Onde se cria muita dificuldade, há sempre alguém vendendo facilidades.” (Lori Tansey)


Ao se falar burocracia a pessoa de imediato associa a papelada, demora, complicação.

Não foi o que passou pela cabeça do Sr. Max Weber. Este sociólogo alemão idealizou, na década de 30, um modelo burocrático estabelecendo regras e a padronização do comportamento e registros objetivando o bom funcionamento de uma organização.

Lamentavelmente em alguns casos não foi nem está sendo bem compreendido.

Ninguém de sã consciência é contra a burocracia, principalmente quando ela cria mecanismos de defesa do patrimônio popular.

Mas a burocracia deve satisfazer os mínimos preceitos da sensatez. Não pode nem deve ser uma pedra no caminho.

Não é o que ocorre, por exemplo, nos negócios da construção civil particularmente na CEF - Caixa Econômica Federal, com utilização de recursos do FGTS para financiamento dos programas de habitação.

A idéia que se tem é que existem pessoas vinte e quatro horas por dia imaginando como tornar as coisas mais complicadas.

O papelório se multiplica e se avoluma dando margem à ineficiência.

Não há como desconhecer que medidas de segurança devem ser adotadas com maior rigor e eficácia para proteção da poupança popular.

Mas os procedimentos e as exigências reclamadas pela CEF transcendem os limites do absurdo. No processo de financiamento criou-se uma engrenagem complexa com regras e procedimentos redundantes.

Não entendo como o Governo Federal pretende desenvolver um programa para reduzir o déficit habitacional convivendo com uma máquina burocrática maluca e de tamanha complexidade.

Exemplifico com a experiência vivida por um dos meus filhos, Gustavo, que associado a outros amigos construiu um pequeno condomínio em Bayeux.

São oito pequenas casas com cerca de 56,00m² cada uma.

Descrevo a seguir a via crúcis por ele percorrida e as exigências para acesso ao financiamento. Pasmem!

Primeiro junto à Prefeitura Municipal para aprovação do Projeto de Arquitetura e o conveniente Alvará de Construção que requer a quitação com os tributos municipais (IPTU). Seguem-se obrigações com o INSS (CND), e atividades cartoriais, certidões vintenárias do terreno, escritura do terreno, Ata de Constituição do Condomínio, Escritura de Convenção do Condomínio, Certidão de Confrontações, licenças ambientais que demanda uma gama de providências paralelas (relatório de impacto ambiental, licença prévia, projeto de esgotamento sanitário assinado por engenheiro sanitarista) e o Habite-se expedido pela Prefeitura Municipal.

Ao recorrer ao financiamento o cidadão, que passa a ser chamado de mutuário, enveredará por um labirinto repleto de surpresas.

Deverá apresentar cópias de documentos de qualificação (RG, CIC), tem que provar que está vivo, que não é proprietário de outro imóvel, que tem condições de pagar o financiamento (composição da renda familiar), que está quite com suas obrigações de cidadão, apresentar certidões de que não é inadimplente perante as fazendas Federal, Estadual e Municipal. Estas certidões têm prazo de validade e muitas vezes o processo emperra por uma razão qualquer e a certidão caduca exigindo novas providências, e por ai vai.

Uma vez cumprido todo esse ritual o imóvel será objeto de uma avaliação que será elaborada por engenheiro credenciado pela CEF não esquecendo que sua visita será remunerada e paga pelo mutuário. Todas essas providências implicam despesas adicionais no custo do imóvel que serão repassadas naturalmente para o comprador.

Será então lavrado o contrato de financiamento e concluído o negócio.

Simples, não?

terça-feira, 30 de março de 2010

Expressões idiomáticas.

Rebuscando meus alfarrábios recolho alguns fragmentos sobre a origem de algumas expressões de uso corrente e não me ocorrendo um assunto mais apropriado preencho meu fastio literário com essas designações.


OLHO POR OLHO, DENTE POR DENTE - (Lei de talião)

Esta expressão remonta ao ano de 1780 a.C., no reino da Babilônia, no Código de Hamurabi.

Talião não é um nome próprio como parece. Escreve-se com inicial minúscula, pois se refere à correspondência de correlação e semelhança entre o mal causado a alguém e o castigo imposto a quem o causou; para tal crime, tal pena.

O criminoso é punido TALITER, ou seja, de maneira igual ao dano causado a outrem.

O termo LEX TALLONIS não somente se refere a um literal código de justiça, mas aplica-se à mais ampla classe de sistemas jurídicos que formulam penas específicas para crimes específicos, aplicados de acordo com a gravidade.

No código escrito por Hamurabi, o princípio da reciprocidade é exatamente usado com muita clareza. Por exemplo, se uma pessoa causou a morte do filho de outra pessoa, aquela pessoa que matou o filho (o culpado) seria colocada à morte por matar a criança.

MÃO NA RODA

Esta expressão origina-se de um fato.

Antigamente quando as viaturas possuíam tração animal e atolavam nas estradas, não havia solução melhor que pedir auxílio a outras pessoas, e todas colocavam a “mão na roda”, num esforço para tirar o veículo da lama.

Daí o sentido de ajuda, auxílio, etc.

BODE EXPIATÓRIO E BOI DE PIRANHA

São duas expressões que induzem, ou melhor, imputam uma penalidade indevida a uma pessoa inocente.

Os tropeiros ao atravessarem um rio com piranhas escolhiam um boi mais magro do rebanho e colocavam no rio, morto, para ser devorado pelas piranhas e atravessavam noutro local com o rebanho são e salvo. Figurativamente é o indivíduo que é submetido a uma situação de sacrifício para livrar outrem de uma dificuldade ou culpa.

O bode expiatório era um animal que era apartado do rebanho e deixado só na natureza selvagem como parte das cerimônias hebraicas do YOM KIPPUR, o Dia da Expiação.

Este rito é descrito na bíblia em Levítico Capitulo 16. No sentido figurado: alguém escolhido arbitrariamente para levar a culpa sozinho de um crime ou qualquer evento negativo. (Em inglês Scapegoat ou Fall Guy)

ENTRE A CRUZ E A ESPADA

Esta expressão origina-se na idade média à época da inquisição.

A cruz representando a Igreja e a espada representando o Estado.

Aderir à Igreja ou ao Estado em qualquer situação era um dilema constrangedor cuja opção poderia resultar na própria morte.

NAS COXAS

Aas primeiras telhas do Brasil eram feitas de argila moldada nas coxas dos escravos.

Como os escravos variavam de tamanho e porte físicos, as telhas ficavam desiguais.

Daí a expressão estão fazendo nas coxas, ou seja, de qualquer jeito.

VOTO DE MINERVA

Na mitologia Grega, Orestes, filho de Clitemnestra, foi acusado de tê-la assassinado.

No julgamento havia empate entre os jurados, cabendo à deusa Minerva, da Sabedoria, o voto decisivo.

O réu foi absolvido, e voto de Minerva passou a ser portanto, o voto decisivo.

CASA DE MÃE JOANA

Na época do Brasil Império, mais especificamente durante a menoridade de Dom Pedro II, os homens que realmente mandavam no País costumavam se encontrar num prostíbulo do Rio de Janeiro cuja proprietária se chamava Joana.

Como, fora dali, esses homens mandavam e desmandavam no país, a expressão casa de mãe Joana ficou conhecida como sinônimo de lugar em que ninguém manda.

CONTO DO VIGÁRIO

Duas igrejas de Ouro Preto receberam, como presente, uma única imagem de determinada santa, e, para decidir qual das duas ficaria coma escultura os vigários apelaram à decisão de um burrico.

Colocaram-no entre as duas paróquias e esperaram o animalzinho caminhar até uma delas.

A escolhida pelo quadrúpede ficaria com a santa.

O burrico caminhou direto para uma delas...

Só que, mas tarde, descobriram que um dos vigários havia treinado o jegue, e conto do vigário passou a ser sinônimo de falcatrua e malandragem.





A VER NAVIOS

Dom Sebastião, jovem e querido Rei de Portugal (sec. XVI), desapareceu na batalha de Alcácer-Quibir, no Marrocos.

Provavelmente morreu, mas seu corpo, como o de Ulisses Guimarães, nunca foi encontrado.

Por isso o povo português se recusava a acreditar na morte do monarca, e era comum que pessoas subissem ao Alto de Santa Catarina, em Lisboa, na esperança de ver o Rei regressando à Pátria. Como ele não regressou, o povo ficava a ver navios.

NÃO ENTENDO PATAVINAS

Os portugueses tinham enorme dificuldade em entender o que falavam os frades italianos patavinos, originários de Pádua, ou Padova.

Daí que não entender patavina significa não entender nada.

SEM EIRA NEM BEIRA

Os telhados de antigamente possuíam eira e beira, detalhes que conferiam status ao dono do imóvel.

Possuir eira e beira era sinal de riqueza e de cultura.

Estar sem eira nem beira significa que a pessoa é pobre e de fraco raciocínio.

segunda-feira, 29 de março de 2010

COMO DESVIAR UM BILHÃO DE REAIS!

A mente doentia dos salteadores é pródiga na criação de artimanhas para ludibriarem e locupletarem-se dos cofres públicos.

Os ardis se tornam cada vez mais ousados e aperfeiçoados.

Acabo de receber um e-mail relatando uma história contada por um auditor e consultor de órgãos públicos dando conta de um novo golpe para desviar um bilhão de Reais sem ser pego.

Indignado repasso o ocorrido para denunciar os criminosos na expectativa de que pelo menos nas próximas eleições se procure enxotar os vendilhões do templo.

Um ex Diretor Financeiro de um Fundo de Pensão (entidades que movimentam quase 20% do PIB Nacional) de uma empresa estatal recebeu uma “ordem” do Ministério da Casa Civil no sentido de que o Fundo por ele administrado vendesse um bilhão de reais de títulos da dívida pública, de sua carteira, a uma determinada corretora de valores. O Diretor achou um absurdo e foi contra. O Conselho de Administração autorizou a venda dos títulos e o Diretor foi demitido trinta dias depois.

A PREVI, fundo de pensão do Banco do Brasil, vendeu 5 bilhões de Reais de sua carteira de títulos da dívida pública para uma determinada corretora de valores..

Como esses títulos eram resgatáveis para 15 a 20 anos houve um deságio de 30%, portanto a Previ recebeu 3,5 bilhões de reais pelos títulos.

Alguns dias depois o Governo Federal, através do Ministério da Fazenda – Tesouro Nacional recomprou esses títulos da mesma corretora, com deságio de 10%. Assim a citada corretora que tinha endereço num Flat Service na Barra da Tijuca, lucrou 20% dos 5 bilhões de reais, ou seja, UM BILHÃO DE REAIS. Numa única operação surrupiaram um bilhão de Reais.

Garante o auditor que essa história foi relatada na CPI dos Correios. Tentou-se abrir uma CPI dos Fundos de Pensão, mas não conseguiram assinaturas suficientes.

Portanto, discutir ideologias, criticar o Decreto dos Direitos Humanos, as gafes do Presidente, tudo é fichinha para desviar a atenção dos crimes contra o patrimônio que engordam as contas dos apaniguados do poder nos paraísos fiscais e Cuba.

Santa ingenuidade ao se questionar, por exemplo, ações praticadas pelo Paulo Maluf.

Perto deles Maluf é um amador, um trombadinha.

Pense nisto.

Em outubro dê valor ao seu voto. Se votou n o Cara, não vote na Coroa.

domingo, 28 de março de 2010

O aborto.

A partir da fecundação o corpo da mulher experimenta uma série de transformações físicas e psicológicas para abrigar o novo ser e continuará assim por nove meses.


O aborto é a interrupção deste processo, de forma espontânea, em qualquer etapa.

A prática do aborto induzido é uma matéria complexa do ponto de vista científico, político e social, que envolve aspectos éticos e morais e conceitos doutrinários tanto da Igreja como do Estado.

A Igreja posiciona-se peremptoriamente contra o ato do aborto. Alega que é um ato que vai de encontro à vontade de Deus e que se está matando um inocente.

A posição do Estado pouco difere da Igreja, partindo do princípio que todos temos direito à vida.

Entretanto, em alguns países como os Estados Unidos, França, Inglaterra, Canadá e Espanha, o aborto é permitido inclusive existem clínicas especializadas para tal intervenção. Neles o argumento se apresenta: o aborto deve ser legal porque a mulher tem o direito de decidir sobre seu próprio corpo. Exemplificando a complexidade do assunto contrapõe-se: O novo ser que se encontra dentro do ventre da mulher não faz parte de seu corpo é uma prolongação deste portanto ela não pode decidir sobre uma vida que não é sua.

Julgo de extrema dificuldade encontrar uma solução consensual.

Entretanto há um entendimento que deveria prevalecer tanto para a Igreja como para o Estado.

Primeiro a Igreja não pode perpetuar-se estagnada no tempo com relação aos seus dogmas e conceitos religiosos sob pena de perder o bonde da história e conseqüentemente o abandono de seus fieis.

O Estado também há que julgar com sabedoria fazendo prevalecer a lógica do bom senso.

Em situações de risco tanto para a mãe quanto para o bebe e situações traumáticas como é o caso dos estupros não há como nem porque se proibir o aborto. Pelo menos nesses casos deveria haver uma aceitação de ambas instituições. Estado e Igreja.

quinta-feira, 25 de março de 2010

Água ou vinho?

O amigo Arael Costa freqüentemente me delicia com seus emails abordando curiosidades náuticas e aeronáuticas ou exuberantes fotos femininas.

Hoje me surpreende com uma matéria em inglês que é mais um libelo aos abstêmios.

Inicia com um poema de Ben Franklin (que eu imagino ser o Benjamin):

In wine there is wisdom,

In beer there is freedom,

In water there bactéria.

(No vinho há sabedoria,

Na cerveja há liberdade,

Na água há bactéria.)

O artigo noticia que cientistas realizaram um número considerável de experiências e comprovaram que se nós bebermos um litro de água todo dia ao final de um ano teremos absorvido mais de 1 kg de Escherichia coli (E. Coli) – bactéria encontrada nas fezes.

Em outras palavras, teremos consumido 1 quilo de cocô.

Entretanto, não correremos este risco se bebermos vinho, cerveja ou whisky ou qualquer outra bebida alcoólica.

A explicação é que o álcool passa por um processo de purificação (destilação e fermentação) que elimina todas as impurezas.

Infere-se então que é melhor beber vinho e cometer alguns excessos do que beber água e intumescer-se de merda.

Em resumo água é cocô e vinho é saúde.

quarta-feira, 24 de março de 2010

Profissionais do sexo.

Garota de programa, rapariga, quenga, puta, michê, rameira, messalina, meretriz, são vocábulos utilizados para designar uma das profissões mais antigas da humanidade - a prostituição.


Mulheres que ganham a vida na horizontal vendendo prazer nos lupanares, a uma clientela heterogênea e que são obrigadas a satisfazer homens ou mulheres hetero ou homossexuais, noviços ou maduros, bêbados, pervertidos e toda sorte que procuram as mais variadas e exóticas fantasias sexuais.

Também se lhes atribui o título “Mulheres de vida fácil”. Onde está a facilidade?

O que há é uma legião de mulheres em todos os recantos do País, que militam nessa atividade, na clandestinidade, desassistidas e sem nenhum amparo social.

Há um debate nacional sobre a legalização da prostituição.

Lembro uma entrevista com uma deputada de Portugal defensora da legalização da prostituição.

Em certo momento da entrevista inverteram-se os papeis e a entrevistada perguntou à entrevistadora:

- Você tem vagina?

- Tenho!

- Você pode dar a sua vagina a quem quiser?

- Posso!

- Então, se pode dá-la, por que não vendê-la?

Pertinente a lógica da Deputada. Se você possui um bem deve ter o direito de dispor do mesmo a seu critério desde que não seja coagida a fazê-lo por coação.

Como esconder uma atividade que existe desde o tempo das cavernas.

A prostituição é admitida como sendo a profissão mais antiga do mundo.

Detesto moralismo e moralistas.

Só a hipocrisia abriga quem defende sua a proibição.

De um lado, permite-se a prostituição, do outro, proíbe-se a existência de prostíbulos. Ou seja, não é proibido uma mulher vender sexo à beira da estrada, onde o único cuidado com a higiene é um rolo de papel e sujeita a ser roubada, maltratada e violada. Mas é proibida a existência de casas licenciadas, onde as mulheres possam ser controladas pelos serviços sociais, de saúde e pela polícia.

Não tenho qualquer dúvida que grande parte das mulheres que vivem da prostituição preferia ter outra profissão.

Alguém acredita que é por amor que jovens lindíssimas de 20 anos namoram, casam e aceitam ir para cama com velhos milionários. Ou não será também outro tipo de prostituição, mais sofisticado, um modelo vip.

Numa época em que o sexo deixou de ser tabu, não percebo a relutância de alguns em admitir que pessoas o comercializem desde que o façam de livre vontade como acontece na Alemanha, Holanda e Suíça. Segundo pesquisa, na França, em cada grupo de 10 pessoas 6 aprovam a legalização numa campanha que vem sendo capitaneada pela Deputada Chantal Brunel.

Ao Estado cabe regulamentar a atividade de forma a proteger a saúde pública e evitar a exploração sexual e o tráfico de mulheres, e que elas não sejam exploradas por cafetãos e gangues criminosas, e também a fuga dos impostos de uma atividade altamente lucrativa.

terça-feira, 23 de março de 2010

Devaneios.

Não me pergunte pelo que deixei de fazer nem me questione pelas coisas que fiz.

Ambas as situações retratam fatos consumados e intangíveis.

Umas me aguçam um sentimento ambíguo de angústia e ansiedade. Das outras não me penitencio nem guardo ressentimento ou arrependimento.

Desejaria ter feito mais, muito mais.

Ter errado mais, tentado mais, ousado mais. O que passou, passou e “águas passadas não movem moinhos”.

Os tempos vividos já se vão longos anos e, o que falta percorrer é um lapso. Comparados determinam uma contabilidade onde o resultado é sobradamente uma massa volumosa de passado e uma nesga de futuro.

Por esta razão é imprescindível e imperativo saber como passar o tempo de hoje em diante.

Hoje me reservo um direito conquistado ao longo de muitos janeiros, de pautar o dia a dia adotando uma filosofia de vida um tanto quanto seletiva.

Parafraseando Mário de Andrade meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos em detrimento dos conteúdos.

Não há mais tempo para lidar com mediocridades.

Não devo me permitir conviver com pessoas desagradáveis, chatas, mal humoradas, burras, nem pensar.

Devo evitar a todo custo conversar futilidades ou coisas que não me interessam, como a vida alheia.

Tenho que procurar a essência das coisas que fazem a vida valer a pena.

Afinal, o tempo é irreversível, nunca retorna e como disse Cazuza não para.

segunda-feira, 22 de março de 2010

Jogos de azar.

Os jogos de azar são aqueles em que a possibilidade de ganhar ou perder não depende da habilidade do jogador, mas exclusivamente da sorte ou azar.

Quais as chances de ganhar a loteria?

O dinheiro ganho ou perdido numa loteria ou outro jogo de azar é determinado pelo "EV" (Expected Value, ou "Valor Esperado") de uma aposta.

Esse valor é invariavelmente positivo para quem banca o jogo e negativo para quem joga.

Apesar de que alguns jogos como o Pôquer, por exemplo, não se caracteriza como um jogo de azar. No pôquer o jogador toma uma decisão na escolha das cartas e gera um “EV”que poderá ser positivo ou negativo tudo dependendo de sua habilidade.

A proibição dos jogos de azar no Território Nacional está prevista na Lei das Contravenções Penais, em vigor desde Janeiro de 1942 e regulamentada por Decreto desde 1946.

A propósito das contravenções a Paraíba é o único estado brasileiro onde o Jogo do Bicho é praticado ostensivamente.

Durante o movimento “revolucionário” de 64, o então Governador João Agripino Filho foi questionado pelo Presidente Castelo Branco, numa reunião da Sudene, pressionando-o para que ele que tomasse providências para a proibição do ilícito.

O Governador corajosamente rechaçou as recomendações presidenciais e enfatisou:

- O Sr. me garanta uma forma de gerar empregos para todas as famílias de paraibanos que subsistem desse jogo de azar que eu proibo.

E até hoje permanece como era antes.

Mesmo na ilegalidade os jogos proliferam e movimentam, anualmente, bilhões de dólares.

A polêmica da legalização dos jogos de azar envolve os argumentos contra de que estes são apenas uma fachada legal para práticas de atividades criminosas concorrendo para o aumento da criminalidade ou questões morais ou religiosas.

Por outro lado os argumentos a favor enfatizam que a indústria do jogo é uma atividade significativa e que poderá converter-se em uma fonte de financiamento para a indústria turística nacional, como é o caso da Loteria Esportiva e as Loterias exploradas pelos Estados que movimentam valores astronômicos.

Atualmente tramita na Câmara dos Deputados, um projeto de lei para regularização do jogo no País.

Nele se estabelece que a competência para autorização do serviços será da União, dos Estados e do Distrito Federal.

A eficácia do projeto depende apenas da sanção do Presidente Lula.

domingo, 21 de março de 2010

Padre na Política.

Aqui pra nós, sempre achei meio esquisito essa questão de padre na política.


Acho que em uma das postagens do ano passado me ocupei deste assunto. Retorno ao mesmo tendo em vista o pronunciamento de D. Aldo Pagotto nos meados desta semana abordando a posição da Igreja sobre a matéria.

Sei que alguns podem até desaprovar meu ponto de vista considerando-me desinformado em questões eclesiásticas ou até mesmo retrógrado.

Na realidade considero um equívoco, "um desvio de função", a participação ativa dos padres na política.

No meu julgamento o Padre e a Política formam um antagonismo de fato, e constitui uma questão polêmica que tem sido bastante discutida nos círculos intelectuais e religiosos.

Não se trata de ser contra ou a favor.

É simplesmente uma constatação de incoerência e de ambigüidade.

A história está repleta de exemplos de padres que participaram e participam da política quer como legisladores ou exercendo cargos executivos.

Em setembro de 2009, o Papa Bento XVI, ao recepcionar os bispos no Palácio Apostólico de Castel Gandolfo, foi enfático e literalmente contra essa prática. Em seu discurso cobrou dos sacerdotes para que estes se afastem de um engajamento pessoal na política.

Foi esse o recado que D. Aldo transmitiu esta semana na TV, alertando àqueles sacerdotes que militam ativamente na política que não mais fará ouvidos de mercador para esta questão e irá agir com severidade no cumprimento das recomendações de Sua Santidade o Papa.

De fato ao fazer uma opção político-partidária o sacerdote cria, no seio de sua comunidade, uma área de divergência que dificulta sua ação evangélica.

O recado do Papa foi cristalino. O papel do sacerdote é o de pastor, testemunha da autenticidade da fé e dispensador, em nome de Cristo, dos mistérios da salvação.

Ao fazer uma opção política o padre toma partido e tomar partido é incompatível com o ecumenismo da Igreja e divide a comunidade.

A Igreja é ecumênica e não pode tomar rumos específicos sob pena de desvirtuar sua missão de ser o elo entre o homem e Deus.

O homem não tem sigla partidária e sua dimensão espiritual está acima de parâmetros políticos.

A Igreja mesmo que indiretamente direcionando seu foco para uma ideologia partidária está discriminando o homem e aí perdendo fieis, pois, está desvirtuando sua missão deixando de pastorear para fazer política partidária, papel que deve ser desempenhado pelos Partidos Políticos.

A Igreja não pode nem deve estar a serviço da política e sim a serviço de Deus.

sábado, 20 de março de 2010

A falésia do Cabo Branco.

Tenho assistido pela TV vários pronunciamentos de geógrafos, ambientalistas, engenheiros, e outros especialistas sugerindo medidas para proteção da falésia do Cabo Branco.


A ação das intempéries naquele acidente geográfico tem preocupado muitos estudiosos e administradores públicos.

Esta questão remonta há muitos anos.

Na administração do Prefeito Carneiro Arnaud (1986/89) elaborou-se um projeto objetivando este propósito. O projeto constava de enrocamentos no pé da barreira (quebra-mares) encimado por uma via contornando o Cabo e a construção de molhes.

Tudo foi cuidadosamente elaborado para ser apresentado ao Dr. Celso Furtado, paraibano de Pombal, à época Ministro da Cultura do Presidente Sarney, que estava visitando João Pessoa.

No dia aprazado uma grande comitiva composta pelo Prefeito, Secretários municipais, Jornalistas, e outros circunstantes dirigiu-se ao Farol onde os técnicos da Prefeitura iriam apresentar o projeto com o objetivo de obter recursos federais para seu financiamento.

Na qualidade de Secretário de Obras fui incumbido desta missão.

Abri o projeto sobre o capus de uma camionete e antes que eu concluísse a argumentação fui interpelado pelo Ministro:

- Vocês fizerem estudos simulados com modelos reduzidos para conhecer a eficácia desse projeto e as conseqüências de sua influência nas correntes marinhas?

- Infelizmente não Senhor Ministro – respondi e acrescentei:

- Desconheço a existência de um laboratório, aqui no Brasil, para realização destes testes. Acho que só existe no Laboratório Nacional de Engenharia Civil em Lisboa.

- Mas é importante que se tenha essas informações – insistiu o Dr. Celso.

- O Senhor conhece a Riviera Francesa, no Mar Mediterrâneo? Lá estão as mais luxuosas, as mais caras e sofisticadas áreas do mundo. O seu relevo vive em constante mutação em razão das erosões marinhas – acrescentou o Ministro.

- Precisamos ter mais cuidado com nosso ufanismo. Precisamos nos convencer e se acostumar com a idéia de que hoje nós temos aqui o ponto mais oriental das Américas. Mas será assim amanhã?

À medida que o Ministro dissertava seus conhecimentos oceanográficos fui tomando ciência que o projeto havia afundado ali mesmo.

Depois desses comentários houve um pequeno silêncio, a reunião foi dispersa, dobrei os papeis e todos nós voltamos às lides costumeiras.

O projeto foi adiado para aprofundamento dos estudos de viabilidade técnica, até hoje.

sexta-feira, 19 de março de 2010

Arrumando a casa.

Toda cidade passa por um processo permanente de mutação.

O aumento populacional demanda a ampliação dos sistemas de transporte, de moradia e de abastecimento.

Quando a cidade é planejada seu crescimento acontece sem maiores complicações.

Entretanto na grande maioria dos casos a ausência de um planejamento provoca sérias dificuldades para a administração da cidade tornando complexas e onerosas as soluções de seus problemas urbanísticos.

Veja por exemplo o caso de João Pessoa.

O sistema de habitação apresenta um déficit de proporção considerável. Estima-se uma necessidade superior 30.000 moradias.

O sistema de transporte está saturado e já se percebe, a cada dia, nas horas de pico, nos principais corredores, engarrafamentos entediantes e crescentes.

Mensalmente ingressam novos veículos e em detrimento do crescimento progressivo da frota o sistema viário permanece estagnado.

As últimas vezes que a malha viária da cidade experimentou alguma melhoria significativa foi na administração dos Prefeitos Hermano Augusto de Almeida (1975 – 1979) com implantação da Avenida Ministro José Américo de Almeida (Beira Rio) e duplicação da Av. Cruz das Armas e Oswaldo Trigueiro do Vale (1983 – 1986) implantando a Av. Tancredo Neves e os corredores Pedro II e 2 de Fevereiro.

Tanto a questão da habitação quanto o sistema viário implica soluções factíveis porém requerendo investimentos vultosos sobradamente superiores à capacidade dos cofres públicos municipais.

Portanto tudo se resume na vertente financeira.

Recursos há.

O que inexiste é vontade política e comprometimento de nossos representantes para drená-los para nosso Estado.

É imperativo que nossos parlamentares amadureçam politicamente e se conscientizem do seu papel rechaçando as futricas cartoriais e adotando uma postura republicana na defesa dos interesses de nosso Estado.

quinta-feira, 18 de março de 2010

Código de Postura.

O descaso das autoridades municipais com o código de postura é algo impressionanteA Prefeitura Municipal é célere e eficiente para cobrar do cidadão, mas uma toupeira para fazer valer as leis do município.

Ela mesma é a primeira a dar o mal exemplo.

Vejam por exemplo a agressão ao código com a localização inadequada de uma torre de lombadas eletrônicas.

Na Av. João Câncio, uma das mais movimentadas de Manaíra, precisamente em frente ao nº 1155, foi instalada uma lombada eletrônica.

Até ai nada de mais se a torre de apoio do equipamento eletrônico não estivesse justamente ocupando uma área da pista de rolamento dos veículos. Além de obstruir a passagem dos carros é um arranjo que propicia acidentes.

Segundo me contou a proprietária do estabelecimento Show Room Decorações, que está situado bem frente à lombada, a semana passada um veículo atropelou um ciclista justo no momento em que este cruzava esta sinalização.

Se as lombadas eletrônicas já são criticadas por alguns como sendo caça níqueis agora lhes cabe outra função de causar acidentes.

Sinceramente não consigo entender como a Prefeitura permite tal absurdo.

A Prefeitura disponibiliza um número para denuncias 3218 9172 que na realidade é uma armadilha para enganar os incautos vis mortais.

Só acatam denúncias de infrações cometidas nas obras particulares, traduzindo: no caso de obras públicas vale tudo. É a lei do cão.

Ligar para o STTRANS é uma temeridade. O diálogo nem sempre é agradável quando não estressante.

- O que é que o Sr. quer que se faça?

- A Srª não entendeu a gravidade do problema?

- Estou denunciando um absurdo.

- Vamos analisar e em breve o Sr. receberá uma correspondência sobre as providências adotadas.

Irritado encerro a ligação:

- É quando houver outro acidente de maiores proporções.


quarta-feira, 17 de março de 2010

Limite de maioridade.

A questão da maiorida é um assunto polêmico e complexo.

Sobre o assunto há algumas indagações para serem analisadas e respondidas pelos juristas e legisladores.

Uma criança de 12 anos de idade há cinquenta anos atrás tinha um discernimento e um desenvolvimento intelectual muito aquém de uma criança de hoje.

Essa diferença é patente em todos os indicadores que se compare, por exemplo os brinquedos e objetos pessoas de consumo. Veja o quais os incentivos e hábitos identificados em uma criança em 1960 e compare-os com os atuais.

O que era socialmente permitido e o que não era permitido fazer.

Acriança atualmente experimenta uma amadurecimento precoce.

A maioridade refere-se à idade em que a pessoa passa a ser considerada capaz para exercer direitos próprios de adultos, contrair obrigações e ser responsbilizado civil e penalmente por suas ações.

No Brasil, menores de 18 anos são considerados incapazes, e portanto inimputáveis.

O Código Civil de 1916 estabelecia a maioridade a partir dos 21 anos. Oitenta e seis anos depois, portanto em 2002 esse limite foi alterado para 18 anos.

Para efeitos militares, a minoridade cessa aos 17 anos, quando os jovens podem ser alistados nas forças armadas.

Menores com idade entre 16 e 18 anos têm direito de voto garantido pela Constituição.

Para efeito de trabalho, a incapacidade cessa aos 14 anos. Jovens entre 14 e 16 anos só podem ser empregados como aprendizes. Se o trabalho for noturno, insalubre ou perigoso, a idade mínima é de 18 anos completos.

Para efeito de relações sexuais, a incapacidade de consentir cessa aos 14 anos sendo proibida a prostituição ou pornografia até os 18 anos completos.

Isto é, podem votar mas não podem assumir as consequências dos seus próprios atos.

Como explicar esse antagonismo?

A legislação brasileira diz que menores de 18 anos são inimputáveis - ou seja, não podem sofrer pena de detenção ou reclusão, não importando a gravidade do crime cometido. O máximo de punição permitida ao menor de idade é a internação compulsória em instituição socio-educativa,como a Febem por no máximo três anos.

O estatuto da criança e do adolescente fixa a idade mínima para 12 anos, mas isso se aplica quando o menor é infrator, e não vítima. Assim, menores de 12 anos que cometam crimes não podem sofrer qualquer tipo de repreensão, nem mesmo socio-educativa (por exemplo, internação em instituição própria).

Assistimos a cada dia multiplicarem-se os ilícitos praticados por menores infratores que permanecem na impunidade por conta das limitações impostas pelos códigos.

É de extrema necessidade uma análise aprofundade e urgente dessa questão para que a sociedade estabeleça regras que pelo menos ajudem a inibir tais delitos.

domingo, 14 de março de 2010

Rua Abel Montenegro.

Já se disse que o tempo é um escultor de ruínas. Prefiro defini-lo como professor da vida.

Inexorável e infinito. Escreve, apaga, ensina e esculpe célere sempre em direção ao futuro.

Meu pai foi casado por duas vezes. Teve nove filhos seis do primeiro matrimônio e três do segundo.

De início éramos um pouco arredios, não sei precisar exatamente a razão. Talvez um tolo ciúme infantil. O tempo, entretanto encarregou-se de fazer os devidos reparos e estabelecer o congraçamento fraterno.

Hoje, 14 de março, reunimos quatro gerações. Pais, avós, filhos, netos, irmãos, todos com o mesmo propósito de prestar uma homenagem ao meu pai com a aposição de uma placa na rua que tomou seu nome.

Éramos ao todo trinta e dois parentes desde a pequena Beatriz neta de Cláudio com anos de idade até eu curtindo meus bem vividos sessenta mais dez anos. Todos nove irmãos estavam presentes, inclusive Hélio e Maza (Dagmar) que vieram de São Paulo.

Nos reunimos num pequeno bar (Atlântico Bar), situado na mesma rua, em frente ao local onde foi aposta a placa.

A expectativa do evento prometia ser um rápido encontro social, porém transformou-se numa grande festa de amor e alegria.

O ato simbólico da homenagem, sem dúvida merecida, foi também um pretexto para abrigar um fato importante. Estreitar as relações entre os irmãos e fortalecer a união e a harmonia.

Foi de fato uma reunião agradável e fraterna. Honesta e sincera acima de tudo.

O logradouro fica ali no altiplano do Cabo Branco, logo após a Associação dos Funcionários da Caixa Econômica, no Bairro Portal do Sol.

sábado, 13 de março de 2010

Cotas Universitárias.

No mundo acadêmico está na berlinda o estabelecimento de cotas nas universidades para reserva de vagas no ensino superior.


Espero que não me tomem como reacionário.

Particularmente julgo esta providência um despropósito inconsistente e demagógico.

Primeiro pelo aspecto jurídico envolvendo cláusulas pétreas da Constituição Federal:

“Todos são iguais perante a lei perante a lei, sem distinção de qualquer natureza...”

“É vedada à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios criar distinções entre brasileiros ou preferências entre si”. (Artigo 19 da Carta Magna) ;

E ainda:

“O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada um”.

Em segundo lugar o acesso de negros ou de populações carentes à educação é um problema a ser enfrentado pelo país e deveria originar reivindicações e pressões para que o investimento no ensino público fosse multiplicado para gerar qualidade e quantidade. O governo deveria, além disso, assegurar cursos pré-vestibulares gratuitos e bolsas para os mais carentes. Além disso, é a melhor e mais sutil maneira de chamar essas pessoas de incapazes. O sistema de cotas pode de certa forma realçar ou introduzir um fator discriminatório na carreira de profissionais por elas beneficiados, estigmatizando-os com a suspeita de favorecimento.

Por outro lado, prevalecendo a tese defendida pelo ministro Carlos Ayres Brito de tratar desigualmente os desiguais, questiona-se:

Por que cotas só para alguns segmentos discriminados da sociedade?

Por que não oportunidades de acesso para todos?

Cotas para os homossexuais, para os indígenas, para os sem-teto, para os portadores de necessidades especiais, para a torcida do Bangu e outras minorias.

Sozinhos, os cursos superiores não produzem igualdade.

O problema em questão deve ser abordado transpondo os muros das universidades, amparado por uma política de Estado, disciplinada por leis que promovam a igualdade racial e que interfiram objetivamente nos mecanismos de geração de renda. Entendendo-se que o estabelecimento de cotas irá diversificar a composição racial da sociedade brasileira, principalmente de sua classe média, e se as cotas são um mea culpa de reconciliação com as minorias étnicas, há que também criar adotar cotas raciais nos empregos.

sexta-feira, 12 de março de 2010

MINHA MÂE.

LIQUINHA

Minha mãe chamava-se Maria do Carmo, Liquinha, na intimidade.

Nasceu em Pilar no dia 16 de Julho de 1911.

Filha do pequeno comerciante Francisco do Rêgo Monteiro e Olívia Pereira Monteiro.

Tinha sete irmãos, todos radicados em São Paulo. José Monteiro, Otavio, Oscar, Dapaz, Maria Elisabeth (Deta), Orlando e Onildo.

Era um templo de simpatia. Exercia uma liderança carismática. Tanto em Bananeiras onde moramos, como em João Pessoa, era nela que gravitava o centro das atenções. Não havia quem resistisse ao seu sorriso franco.

Conselheira e amiga, nunca elevou a voz, nunca se alterou, parecia acomodar-se às situações, mas tinha seus pontos de vista e sempre conseguia o que queria sem criar atritos. Na política seria uma eminência parda. Trabalhava nos bastidores.

Extremamente bem humorada, um talento inusitado para as artes não chegando a projetar essas habilidades talvez pela influência machista do meu pai. Tocava violão e cantava com um a voz suave. Cozinhava divinamente, fazia bolos com arranjos ornamentais maravilhosos, costurava, bordava, podia-se dizer era uma artista.

Receptáculo de nossas lamúrias e nosso porto seguro. Quando de nossos erros nos estendia a mão e oferecia o ombro sem menosprezar, nem por em cheque, a autoridade do nosso pai.

Cedo nos deixou. No dia 14 de Maio de 1968, aos 57 anos faleceu após uma cirurgia de vesícula.

quinta-feira, 11 de março de 2010

Meu pai.

Meu pai chamava-se Abel. Nasceu em Itambé, Pernambucano, em 1912.


De família humilde, o comerciante José Alves Rocha, seu pai e Francisca de Albuquerque Montenegro, sua mãe.

Tinha dois irmãos: Dulcinete e Jaime.

Conheci os dois. Dulcinete com quem convivi tinha um pendor natural pela pintura e de Jaime guardo uma vaga lembrança de infância.

Meu pai casou duas vezes.

Do primeiro matrimônio, com minha mãe, Maria do Carmo, familiarmente conhecida como D. Liquinha, nasceram seis filhos: Eu , Cláudio, Meinardo, Eleonora(Nora), Dagmar (Maza) e o caçula Hélio . Entretanto eu fui na realidade o sétimo filho pois os seis primeiros não se criaram e faleceram ainda lactentes

Seis anos após o falecimento de minha mãe, em 14 de maio de 1968, meu pai casou pela segunda vez e dessa nova união nasceram três filhos: Jarbas, Abel e Germana.

Meu pai cultivava duas paixões na vida, a leitura e a maçonaria.

Era um autodidata por excelência.

Exerceu uma profissão hoje extinta, classificador de algodão (análise das fibras do algodão herbáceo com fins de uma classificação).

Homem de temperamento forte, centralizador e muito apegado à família.

Com os filhos mantinha uma relação um pouco distante comparando-se com os padrões atuais.

Não nos era permitido uma intimidade. O respeito à autoridade paterna exigia um comportamento um tanto quanto cerimonioso.

Guardo uma lembrança nítida, na infância, quando ele nos levava à Solânea para cortar o cabelo ou quando, na juventude, nos conduzia pelo braço, ao comércio na Duque de Caxias para comprar sapatos.

Tinha seus próprios métodos ou estratégias de persuasão. Por exemplo, imaginemos que ele quisesse pintar a casa de azul. Consultava minha mãe sobre a cor. Rechaçava, com argumentos fúteis, todas as cores sugeridas por ela que não fosse o azul.

Até que minha mãe após várias alternativas sugeria:

- Que tal o azul?

Ele prontamente concordava deixando claro que a cor tinha sido escolhida por ela.

Resumo da ópera: a cor foi escolhida por minha mãe desde que fosse a que ele desejava.

Era pouco apegado aos esportes e avesso às bebidas alcoólicas salvo no carnaval quando ele se permitia ingerir algumas doses.

Questionava o desgaste do salto do sapato acentuadamente no mesmo lado. Segundo seus critérios este fato traduzia uma fraqueza de caráter.

A postura corporal era outro assunto relevante nas suas análises. Esperar o ônibus numa parada com o joelho flexionado e o pé encostado na parede denunciava irresponsabilidade.

Homem de poucos vícios. Veio a ser fumante já ingresso na terceira idade.

Raramente ouvia música. Nunca o ouvi assobiar ou cantarolar uma canção.

Exotérico e apaixonado pela Maçonaria. Em 1967 fundou, em João Pessoa, uma facção dos Rosa Cruzes.

Foi o primeiro Mestre desse Organismo.

Na Maçonaria ocupou os mais relevantes cargos de sua hierarquia.

Financeiramente teve altos e baixos.

Sucedendo suas atividades como funcionário público aventurou-se na iniciativa privada.

Houve um período de profusão econômica.

Incursionou no comércio varejista, no ramo de alumínio e tecidos.

Foi gerente de um grupo industrial, Abílio Dantas & Cia, que explorava o ramo têxtil, no beneficiamento de sisal e algodão.

No início da década de 50 veio para João Pessoa.

Tenho que admitir que ele não foi uma pessoa previdente.

No final da vida, acometido de Parkinson passou por vexames e dificuldades financeiras.

Faleceu em no dia 06 de agosto de 1987.

Quero concluir afirmando que ele foi um homem de caráter ilibado, de conduta retilínea, de méritos extraordinários, de quem me orgulho e me ufano de ser filho.

Sinto profundamente não ter aproveitado as oportunidades que me foram dadas para ter aprendido com ele muito mais sobre os mistérios da vida.

quarta-feira, 10 de março de 2010

O poeta do absurdo

... a inteligência do poeta precisa viver num mundo mais amplo do que esse a que a sociedade traçou tão mesquinhos limites. (Alexandre Herculano)

Ze Limeira nasceu no sitio Tauá, em Teixeira na Paraíba.

Foi o cordelista e repentista mais mitológico do Brasil. Ficou conhecido como o Poeta do Absurdo pra mim seria "o Trovador de Teixeira".

Há incrédulos que sustentam até hoje que ele nunca existiu. (Nasceu em 1886 e morreu em 1954).

Vestia-se de forma berrante, com enormes óculos escuros e anéis em todos os dedos, e saía pelos caminhos de sua vida, cantando e versando com voz trovejante e métrica escorreita.

Sua obra veio à tona com um trabalho de abnegação e pesquisa do escritor e advogado Orlando Tejo.

Suas poesias são recheadas de surrealismo e nonsense.

Um talento psicodélico isento de afetação e cálculos matemáticos.

Notabilizou-se pelos neologismos exdrúxulos que criava a exemplo de pilogamia, filanlumia e filosomia daí ser considerado também o Dali do repente.

Um surrealismo assertanejado como se pode ver nesses versos quando ele foi instado a rimar com o mote: “Os tempos não voltam mais”.

O velho Tomé de Souza
Governador da Bahia

Casou e no primeiro dia
Comeu o cu da esposa

E fez que nem a raposa
Botou na frente e atrás

Depois partiu para o cais
Por onde o navio traféga

Comero o padre Nobréga
E os tempos não voltam mais.

Seu legado foi perpetuado na discografia brasileira com a inclusão de seu Martelo Alagoano gravado por Zé Ramalho e Lula Côrtes no LP “Nordeste, Cordel, Repente e Canção.

Analfabeto de pai e mãe, mas uma mente privilegiada. Interpretava a dinâmica do cotidiano discorrendo sobre assuntos heterodoxos e complexos como temas bíblicos, a política nacional, as ciências, a mitologia grega e o mundo poético tudo borbulhando num tacho ardente de humor e criatividade.

Nos seus repentes sacrificava a coerência discursiva, do primeiro ao último verso, para salvar a métrica. Inventava palavras e expressões para que no final tudo desse certo.

Jesus nasceu em Belém,
Conseguiu sair dalí
Passou por Tamataí
Por Guarabira também
Nessa viagem de trem
Foi parar no Entroncamento
Não encontrando aposento
Dormiu na casa do cabo
Jantou cuscuz com quiabo
Diz o novo testamento.

Outro exemplo de disparate identifica-se a seguir:

Quando Jesus veio ao mundo
Foi só pra fazê justiça
Com treze anos de idade
Discutiu com a doutoriça
Dos trinta pra trinta e seis
Pra não estar vagabundando
Sentou praça na puliça.

Excluindo-se os preconceitos Zé Limeira poderia, sem favores, ladear a galeria de talentos a exemplo dos repentistas os irmãos Lourival, Dimas e Otacílio Batista, José Alves Sobrinho, Oliveira de Panelas Francisco Romano, Severino Pinto (o maior de todos), Inácio da Catingueira, Cego Aderaldo, e outros tantos.

segunda-feira, 8 de março de 2010

Milton Delone.

Milton Ponce de Leon, ou Milton Delone como era conhecido, foi meu professor de português no Liceu Paraibano.


Grande mestre!

Falava e escrevia um português escoimado de repetições e ambigüidades.

Craque na gramática reverenciando a todo instante nomes como Júlio Ribeiro e José Oiticica que ele citava:

Sou raça pagã dos Prometeus...


Guardo em mim as grandezas do indescrito,


E a vontade divina de ser Deus
Não perdoava um escorregão.

- Como é o aumentativo de carta?

- Cartão, professor.

- Errado. Isto é um erro crasso, um solecismo cabeludo, o aumentativo de carta é

C A R T A P Á C I O!

Andava constantemente escorreito, de paletó e gravata e sapatos cuidadosamente lustrados.

Certa vez o Professor Delone iniciou a aula fazendo uma reclamação sobre um episódio ocorrido na noite anterior numa sessão de teatro.

Sua zanga originou-se quando um rapaz, sentado ao seu lado, ao ver uma atriz lindíssima que se apresentava mostrando as pernas, não se conteve e tascou:

- Puta que o pariu!

- Ele poderia ter dito a mesma coisa de forma mais elegante:- Que morena formosa!

O professor naturalmente fiel ao preciosismo vernacular não mensurou o peso real da expressão utilizada pelo rapaz.

Você já parou pra pensar e avaliar o peso do “puta que o pariu”?

Se for pronunciado cadencialmente, sílaba por sílaba, “pu- ta – que – o – pa- riu”, dá mais ênfase ainda e traduz com precisão os mais fortes e genuínos sentimentos.

É como “vá tomar no cú”. Já observou a densidade do “vá tomar no cú”, é como se você assumisse a liderança da discussão.

Não desejo inverter os valores cultivados pela sociedade nem muito menos defender que a língua portuguesa abandone suas referências lingüísticas a chamada língua padrão.

Por trás de tudo há uma forte ironia:as pessoas que pertencem às classes desfavorecidas não têm o domínio da norma culta simplesmente porque a sociedade lhes nega o direito a uma boa educação. Mas, como na fábula do lobo e do cordeiro, são elas que estão erradas e a elite está certa. Advém então um sentimento de insegurança tão grande que elas próprias passam a aceitar a culpa e admitir que realmente falam errado.

Seria mais lógico que, em vez de se ensinar que as frases são corretas ou erradas, se transmitisse a consciência de que a língua não é uniforme nem estática e que, por isso mesmo, admite uma pluralidade de usos. Estes podem ser expressivos ou inexpressivos, elegantes ou grosseiros, comuns ou raros, formais ou informais, adequados ou não aos propósitos comunicativos, sempre diferentes uns dos outros e jamais errados em sua essência.

Afinal variações e mudanças são inerentes a quaisquer idiomas.

domingo, 7 de março de 2010

O Exílio.

O exílio é a expatriação compulsória. È estar longe de sua própira casa.

A pena de Exiliium era considerada pelos Romanos como a pior que a pena capital.

Para eles estar em exílio significava ser levado à condição de um animal. O exilado não poderia usar água ou fogo na preparação dos alimentos, não poderia adentrar uma habitação que não a feita pelas próprias mãos e enquanto durasse o exílio não lhe era permitido falar com outro ser humano.

A Bíblia faz referência ao Exílio como o Êxodo que quer dizer “saída” reportando-se a saída dos israelitas do Egito.

A história registra um elenco incontável de personalidades que foram punidas com o exílio, via de regra por questões políticas.

Dante Aligieri, Napoleão Bonaparte, Albert Einstein, Sigmund Freud, Karl Marx, Perón, são personagens de projeção internacional que sofreram o exílio, também entre nossos conterrâneos desfilam o ex-presidente João Goulart, Ferreira Gullar , Caetano Veloso, Gilberto Gil e o paraibano e ex- Ministro da Justiça Abelardo de Araújo Jurema.

A propósito, por falar em Abelardo Jurema,o ministro, lembro-me um episódio que me foi narrado por seu filho meu particular amigo Jornalista Abelardo Jurema Filho.

O episódio narra um diálogo entre o famoso cartunista Ziraldo, fundador do Pasquim, um jornal não conformista editado à época do período revolucionário (1964-1984) e o não menos famoso maestro e compositor Tom Jobim.

Ambos estavam exilados em Nova York.

Mesmo numa cidade encantadora e glamourosa como Nova York, o exílio guarda o constrangimento do banimento e do desterro.

Ziraldo talvez lembrando-se da canção do Exílio de Gonçalves Dias:

Minha terra tem palmeiras,

Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,


Não gorjeiam como lá.

 Não permita Deus que eu morra,



Sem que eu volte para lá;


Sem que desfrute os primores


Que não encontro por cá;


Sem qu'inda aviste as palmeiras,


Onde canta o Sabiá
lamentava:
- Tom preciso voltar pro Brasil.

- Que lamúria sem graça,cara. Você aqui em Nova York. Essa beleza de cidade. Que história é essa de voltar.

Ao que Ziraldo retrucou:

- É rapaz, aqui é bom, mas é uma merda. Lá é uma merda, mas é bom.