segunda-feira, 22 de julho de 2013

O Papa Francisco e a JMJ


Nesta tarde nebulosa do dia 22 de Julho de 2013, exatamente às 15h45min o AirBus A310 da Alitalia aterrissa no Aeroporto Antônio Carlos Jobim (Galeão), no Rio de janeiro.

Em poucos instantes desembarca seu principal tripulante o Papa Francisco em sua primeira visita ao exterior prestigiando a 28ª edição da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) programada na cidade do Rio de Janeiro.

No aeroporto S. Santidade é recebido pela Presidente Dilma Roussef e outras autoridades civis e eclesiásticas como o governador do Estado, o Prefeito da Guanabara, D. Orani Tempesta arcebispo do Rio de Janeiro e presidente do Comitê Organizador da JMJ.

O Papa percorreu um percurso ora em carro fechado, ora no papa móvel, passando pela Catedral Metropolitana, pelo Teatro Nacional e finalmente de helicóptero alcança o Palácio das Laranjeiras, sede do Governo do Estado, onde foi oficialmente recepcionado.

Durante todo trajeto o Papa Francisco foi ovacionado por uma multidão incalculável que se concentrava ao longo das artérias.

O assédio parecia incontrolável e em determinado momento preocupante quando o ilustre visitante num gesto de simplicidade baixou o vidro do veículo para acenar causando repentino tumulto por conta das pessoas que romperam os cordões de isolamento impostos pelos seguranças.

Durante a cerimônia no palácio falaram apenas a presidente Dilma e o Sumo Pontífice.

A presidente Roussef em poucas palavras reiterou que a preocupação do seu governo endossa a luta do Papa pela igualdade social.

O Papa Francisco por sua vez reiterou sua admiração pelo povo brasileiro simpaticamente afirmando que aprendeu que para se comunicar com os brasileiros tem que ser pela porta do coração e ainda proferiu algumas frases emblemáticas sobre o evento.

Não trago ouro nem prata, mas o que me foi dado de mais valioso – Jesus Cristo.

Cristo bota fé nos jovens.

A juventude é a janela pela qual o futuro entra no mundo.

O carisma do Sumo Pontífice ficou patenteado em todos seus gestos.

Sem sombra de dúvidas pelo que ficou explicitado no início desta visita o pontificado do Papa Francisco prenuncia-se como um dos mais ricos da história da Igreja Católica.

sexta-feira, 12 de julho de 2013

OS SETE FOLEGOS DE ANACLETO GAMBARRA

Anacleto Gambarra não era um expoente, antes um lugar comum entre os mortais, perdido anonimamente na multidão.

Nada lhe estimulava a auto-estima. Frágil composição corporal, olhos miúdos e redondos, o cabelo repartido ao meio,  um diminuto e fino bigode a lhe adornar o rosto pálido e redondo.

Trajava com freqüência uma surrada calça escura, um colete cinza e gravatinha borboleta.

Caminhava rua acima, rua abaixo, como se estivesse numa busca frenética a um lugar nunca encontrado, sempre conduzindo debaixo do braço uma inútil papelada encartada num jornal velho imaginando projetar um apelo intelectual.

Produzia máximas da demência antecipando-se às leis de Murphy.

“O que é bom pra todos é pra um”.

“Todo jogo começa zero a zero.”

Às vezes em Latim, mesmo ignorando seu significado.                     

 “Homo quid homo est non flere.” (Homem que é homem não chora).

Morava com uma tia avó, viúva que o adotou desde os 2 anos. A subsistência era garantida com a pensão da tia e os parcos recursos de uma aposentadoria por invalidez.

Uma de suas manias era decorar o dicionário de Português conseguindo até o momento gravar até a letra “M” no verbete Monopsia – estado de  monopse, palavra para designar quem só tem um olho e monopsônio que é a estrutura de mercado caracterizada por haver um único comprador para o produto de vários vendedores.

Nasceu de parto prematuro e complicado que resultou no falecimento de sua mãe. Seus primeiros dias de vida foram numa incubadora. Permaneceu  três meses sob os cuidados desse equipamento. Nesse ambiente experimentou sua primeira adversidade quando um tubo (endotraqueal) colocado no seu nariz indo até a traquéia e responsável pela ventilação foi inexplicavelmente obstruído. Não teve morte instantânea por pura sorte.

Seu pai dois anos após seu nascimento foi vitimado por febre amarela vindo a falecer. Ficou sob os cuidados de Adalgisa sua tia avó.

Aos doze anos foi vítima de outro infortúnio quando sofreu uma queda ao escalar uma mangueira do quintal de casa. Teve duas costelas quebradas e uma fratura exposta na perna esquerda.

Aos dezesseis anos teve seu primeiro emprego como ajudante de zelador na biblioteca municipal.

Adorava sua ocupação e lá adquiriu o hábito pela leitura. Mais tarde fruto das amizades e de sua dedicação foi contratado como zelador da biblioteca.

Aos vinte e cinco anos, no lusco e fusco de um  dia dos festejos juninos foi atingido por um busca-pé que lhe causou queimaduras generalizadas incapacitando-o para o trabalho protagonizando seu quarto infortúnio e proporcionando-lhe a aposentadoria prematura.

O acidente causou também seqüelas irreversíveis no seu comportamento. Adquiriu tiques nervosos e um aspecto meio bizarro aparentando ausência e inquietação. Não era mais o mesmo. Desconhecia as pessoas e tinha dificuldade no relacionamento. Tornou-se excêntrico e sombrio. Cultivou novo visual adotando o uso de uma gravatinha borboleta.Este novo Anacleto passou a ser alvo de chacotas e gozações. Ganhou muitos apelidos como  “Data Venia”  expressão com que iniciava suas falas, “Tição Branco”, por conta das queimaduras e “Manequim de Alfaiate”, devido  a indumentária que insistia em trajar.

Sua vida transformou-se num beco sem saída.

Festa da Padroeira.  A cidade engalanada e o povo frenético.

No coreto da pracinha central a bandinha da Prefeitura Municipal executava marchinhas e dobrados militares para um público cativo na maioria composto por crianças.

Anacleto depara-se com um caminhão onde um auto falante anunciava o recrutamento de pessoas para trabalharem num garimpo. Anacleto intentando fugir dos assédios chistosos imaginou:

“Toda araruta tem seu dia de mingau.”

Sem titubear partiu para mais uma aventura.

No garimpo se envolve involuntariamente, numa briga violenta. Um dos contendores desferiu duas facadas uma atingindo-lhe o esôfago e outra  por um triz não atingiu o coração. Perdeu muito sangue e desmaiou.  Esvaindo-se em sangue é socorrido pelo capataz que o transfere para um posto de saúde no município mais próximo.

No segundo dia apos devidamente medicado toma um novo destino. Resolve abandonar a ocupação de garimpagem por considerá-la extremamente perigosa e alheia às suas qualificações. Pega carona num paquete sem um destino prévio. Desembarca no primeiro porto, Rio das Pedras. Uma cidade ribeirinha com pouco mais de vinte mil habitantes.

Numa estalagem toma conhecimento que estavam recrutando pessoas realização de um senso demográfico. Inscreve-se e é aceito como recenseador. Durante dois meses percorreu a zona rural do município utilizando-se dos mais variados meios de transporte, carroça de boi, canoas e mulas. Essa nova atividade lhe valeu uma doença tropical. Foi acometido de malária. Durante meses teve acessos periódicos de calafrios e febre. Sozinho e anônimo esteve às portas da morte. Teve a sorte do dono da estalagem apiedar-se de sua situação e prestar-lhe socorro durante a enfermidade.

Radicou-se em Rio das Pedras e la criou raízes. Empregou-se numa tipografia e maravilhou-se com o novo emprego. Certo dia por negligência quase decepou a mão numa guilhotina manual, mas perdeu dois dedos o médio e o indicador da mão esquerda.

Seu patrão numa pitada de humor comentou: Há males que vêm para o bem. Agora você está habilitado a candidatar-se a Presidente da República.

Anacleto alegrou-se com o adágio popular matéria de sua predileção. Ao mesmo tempo ficou matutando sobre a insinuação do patrão.

Ali em Rio das Pedras, longe dos achincalhes de sua terra natal, sendo uma pessoa respeitada bem que poderia ingressar na política.

Assim pensou e assim fez.

Ano seguinte foi eleito deputado estadual pelo Partido dos Trabalhadores.

domingo, 7 de julho de 2013

Vandalismo Chapa Branca


O Jornal A União é o único jornal oficial existente no Brasil.

Foi fundado no dia 2 de fevereiro de 1893 por Álvaro Machado então presidente da Província, sendo seu primeiro diretor o industrial Tito Silva.

Funcionava num belíssimo prédio do século XIX localizado na Praça João Pessoa. Em 1971, no Governo Ernani Sátiro, foi transferido para o Distrito Industrial. Ato contínuo, após a transferência do Jornal, o Dr. Ernani ordenou a demolição do edifício para ali erguer a Assembléia Legislativa. Foi um gesto tresloucado configurando-se num verdadeiro ato de vandalismo Chapa Branca. Um crime inominável, como classificou o jornalista Severino (Biu) Ramos em entrevista concedida para o livro “Uma viagem no tempo” em comemoração aos 120 anos do jornal.

Dr. Ernani usou de toda sua autoridade realçada pelo AI-5 que proibia qualquer crítica a qualquer autoridade do governo. Sendo um homem vigoroso que não admitia ser contestado muito menos contrariado e não ouviu ninguém. Derrubou.

Causa espécie considerando ser o Dr. Ernani Sátiro um homem culto e ligado às letras de repente ignorar o valor histórico e arquitetônico de uma obra tão valiosa. Poderia perfeitamente ter construído a sede do Poder Legislativo em outra área da cidade em condições muito mais adequadas. O antigo prédio poderia ser ocupado com outra função, um museu ou uma galeria de arte, por exemplo. Jamais demolido.