quinta-feira, 1 de julho de 2010

Adeus a Radegundis.

Conheci Radegundis na década de 80, mais ou menos em 85 ou 86, na casa do amigo comum Edmilson Oliveira.

Edmilson ou Xibimba, como o tratamos na intimidade, é um aficionado pela música e freqüentemente reunia em sua casa, nos finais de semana, um grupo de amigos para sessões vespertinas que varavam a noite na maior alegria bebericando e consumindo as iguarias preparadas por Orlandina.

Ali encontrávamos com freqüência Waltinho do Acordeon um dos maiores tecladistas que conheci, Naelson com seu violão, e outros tantos que deixo de nominar para não me estender muito.

Numa dessas reuniões conheci Radegundis e seu irmão Heleno (Costinha).

Radegundis chegou atrasado, de bermuda e com seu trombone de vara.

Na sala executavam choros de Ernesto Nazaré.

Radegundis foi chegando, retirou seu instrumento do case, ajustou o bocal do trombone e logo se incorporou aos demais fazendo os acordes que deram nova vestimenta à obra em execução. Foi um verdadeiro deslumbramento.

Radegundes era portador do que se chama “ouvido absoluto” ou “perfect pitch” como dizem os ingleses, que é a faculdade de ouvir e reproduzir o som ouvido. Esta habilidade enalteceu gente famosa com Villa Lobos, Ludwig Van Beethoven, Wolfgang Amadeus Mozart, Fréderic Chopin, e o maestro americano Leonard Bernstein.

Contou-me Radegundis um episódio que lhe ocorrera em Paris, na França.

Estava ele inscrito numa espécie de concurso e quando chegou sua vez foi cientificado que não poderia executar a música que ele havia estudado, pois a mesma fora escolhida por outro concorrente europeu. Radegundis respondeu com um desabado e uma coragem própria do nordestino. Destemido e resoluto estudou apenas três dias e apresentou a peça Czardas de Monti, uma obra de dificílima execução principalmente para trombone de vara. Foi laureado em primeiro lugar.

Radegundis Feitosa Nunes era doutorem trombone performance pela “The Catholic University of America de Washington – DC e mestre pela Julliard School, em Nova York. Foi considerado um dos maiores trombonistas do mundo.

Hoje pela manhã, Radegundis foi vítima de um acidente automobilístico vindo a falecer juntamente com mais três colegas músicos que se destinavam às festividade de 150 anos de fundação de sua cidade natal Itaporanga.

Todas as festividades foram imediatamente suspensas quando a notícia chegou à cidade.

O luto cobre toda a Paraíba e a comunidade artística do mundo inteiro pranteia a perda de um grande talento.

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