quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Nos tempos do Pedro Américo.

Semana passada encontro o amigo Fernando Guedes Pereira no Mag Shopping. Após um abraço efusivo nos cumprimentos comenta:

- Hoje me lembrei de você relendo o livro de Paulinho Soares “Nos tempos do Pedro Américo” quando ele atribui seus cabelos brancos a uma praga jogada por Chiquinho gerente e proprietário do bar.

Lembro, como se fosse hoje, do lançamento dessa obra do grande Pediatra e amigo numa reunião vespertina lá pelos anos de 1989, no Cassino da Lagoa.

A referência de Fernando aguçou minha nostalgia. Logo que chego em casa procuro e não encontro meu exemplar daquela preciosidade escrita por uma das figuras mais impressionantes e de humor tão rico que jamais conheci em toda minha vida. O médico, escritor, professor, humanista e agora fazendeiro Dr. Paulo Soares Loureiro, amigo e parceiro desde a época dos bancos universitários.

Passadas duas décadas procuro meu exemplar e não encontro. Cansado da busca conclui devo ter emprestado e não lembro a quem. Aliás, sobre esta história de emprestar livros meu guru Desembargador Paulo Bezerril dizia: Quem empresta um livro é um tolo, quem devolve também.

A cada hora aumenta minha ansiedade pela perda de inestimável bem. Resta-me a esperança de apelar para o próprio autor.

Estabeleço o contato e descrevo minha angústia.

- Paulinho onde posso encontrar um exemplar do teu livro.

Com a presteza que lhe é peculiar e sem arrodeios ele responde de pronto:

- Para tua sorte fui fazer uma mudança e encontrei dez volumes.

Marcamos um encontro num barzinho lá no Jardim Luna.

Hora aprazada chega Paulinho com meu presente de Natal.

Mesmo antes de cumprimentar-me joga o livro em cima da mesa num gesto que dizia era isto que procuravas amigo?

Não devo ter disfarçado minha alegria e contentamento.

Pedimos dois uísques e conversamos algumas horas sobre amenidades e coisas comuns aos dois.

Maurício, Deus me fez de um excelente material apenas negligenciou no acabamento.

A definição retrata o humor que o diferencia agregando-lhe valor e enriquecendo sua personalidade e seu bom caráter.

Despedimo-nos sem que ele deixasse que eu pagasse a conta.

Tô pagando para ele ler meu livro. – comentou para alguém que acabara de chegar exercitando seu humor característico.

Chegando em casa retomo a leitura após vinte e dois anos e experimento um prazer renovado. Viajo ao passado e vejo desfilando numa tela imaginária o mundo colorido da minha juventude. A charanga Ferro de Engomar, a churrascaria Bambu, a Zona, o Drive-in, as noitadas do CEU (Clube do Estudante Universitário), as “primas” da Maciel Pinheiro, da Silva Jardim, dos Becos do Milagre e do Zumbi, Maria de Janúncio, a casa de Dina e de Hosana, a boite de Berta libertinagem dos intelectuais e o Bar de Carioca. Ah que tempos saudosos e maravilhosamente vividos.

Continuo a leitura num frenesi permanente e descubro novas nuances nas riquezas de detalhes de ambientes e ações pintadas pela magia e pela erudição do seu narrador o genial pediatra que manipula um pincel fictício como se fosse um Rembrandt, o mestre das luzes e das sombras, ou um Rafael Sanzio. Tudo realça como dizia um jargão televisivo “cada mergulho é um flash”.

Somente o talento e a memória fenomenal de um gênio como Paulinho poderiam reproduzir com tanta fidelidade e poesia a paisagem humana e social, os fatos e as pessoas neles envolvidas fazendo-nos reviver tantas alegrias.

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