segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Sebastião Matias


Hoje faço uma homenagem a um artista plástico que vive no anonimato que apelidei de o artesão do Cariri.

SEBASTIÃO MATIAS



Uma sobrinha de praia desbotada, uma pequena mesa tosca de metal protegendo alguns toros de imburana bruta e seca encimada por diversas esculturas talhadas na madeira compõem o atelier e a moradia de Sebastião Matias.

Ali naquele arremedo de habitação vive com a mulher Maria.



Quem é Sebastião Matias?

Sebastião Matias é um escultor, um autodidata da escultura em madeira.

Filho dos Agricultores Manuel José Cordeiro e Francisca Matias, nasceu no sítio Capim Grosso, no município de Itaporanga, no dia 19 de agosto de 1950.

Escolaridade?

Responde com certo desdém: Nunca freqüentei uma escola.

Sabe apenas assinar o nome, o suficiente para tirar o título de eleitor.

De comportamento nômade morou em várias cidades do Sertão e do Cariri, Patos, Juazeiro de Padre Cícero, Campina Grande, Juazeirinho e agora em João Pessoa.

A primeira infância se passou no sítio onde nasceu e aos 10 anos descobriu que tinha pendores para a arte de talhar a madeira.

É diabético, canhoto e tem uma perna amputada.

Como aconteceu? pergunto com certo receio.

Descuido. Me descuidei e aconteceu, tive que amputar quando eu tinha 54 anos.

Hoje estou com 58 anos sou católico, temente a Deus e espero pouca coisa na vida, pelo menos uma casa para morar.

Sou casado há 20 anos com essa mesma mulher Maria.

Com ela tenho dois filhos, Danilo e Sebastião.

Sebastião (filho) está começando a trabalhar a madeira, leva jeito.



Esse cavalo marinho é dele, o golfinho é dele, o tubarão é dele, essa mãozinha segurando o coração é dele. Aponta as peças expostas sobre a mesa junto com outras de suas produções.

Sebastião (filho) se encanta com os seres vivos e natureza, eu exploro mais as formas curvas dos corpos humanos e imagens do santos. Danilo não quer saber de nada. Está na escola, por enquanto, também tem só 13 anos.

A quem quiser seguir esta profissão eu diria que precisa ter muita perseverança e se conscientizar que não vai trilhar uma estrada de rosas, mas vai encontrar muitos espinhos e experimentar muitas dificuldades.

No fundo no fundo compensa quando vejo a obra concluída e sendo objeto de admiração.

Não tenho pretensão de divulgar nenhuma mensagem em minhas obras nem seguir nem fazer escola, vou esculpindo e improvisando. Não projeto minhas peças, vou entalhando a madeira de acordo com o que ela sugere no seu estado natural e só Deus sabe o que vai ser no final.

Não sei precisar até hoje quantas peças produzi. Sei que foram muitas, milhares.

Sempre uso a imburana que me é fornecida por um amigo de Juazeirinho. Acho melhor de trabalhar.

Em média levo uma semana para talhar uma peça de tamanho médio como esta – aponta uma pequena estatueta de aproximadamente 30 cm de altura e pouca complexidade espacial.

Muitas delas estão no Japão, na Alemanha, na França e em Portugal.

Meus maiores clientes são estrangeiros.

A maior que produzi foi comprada por Burity e está exposta no Mercado de Artesanato, em Tambaú, custou 6.000 cruzeiros.

A segunda peça de maior valor quem comprou foi um Francês que a levou para Paris custou 4.000 cruzeiros.

Não recebi ajuda nenhuma de nenhum governo.

Até hoje não tenho uma casa para morar.

O Governador Cássio tem demonstrado que quer ajudar aos artistas da terra, mas parece que certas pessoas ao seu redor não apresentam a mesma vontade a não ser sua mulher D. Silvia que tem dado muita atenção aos artesãos.

Acho ruim por que ele está recebendo muita pressão do outro que foi governador. Acho que é inveja e não querem que ele trabalhe direito do jeito que ele sabe e cresça como merece.

Gostaria muito de poder um dia conversar com ele (Cássio) e dizer isso e também pra ver se eu consigo uma casinha aqui em João Pessoa, ali no Renascer, quem sabe??!!

Sebastião protagoniza a história de muitos artesãos paraibanos que esbanjam talento, mas vivem no anonimato a espera de uma oportunidade.

(Este material foi coletado por Maurício Montenegro no dia 25 de Novembro de 2007 e está sendo reproduzido com autorização do entrevistado).











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