domingo, 30 de outubro de 2011

Desperdício na construção civil

Nos quatro quadrantes do Planeta a Indústria da Construção Civil caracteriza-se como uma das atividades econômicas que mais contribui para a geração de empregos e composição do PIB com índices que variam de 3 a 5% nos países em desenvolvimento e 5 a 10% nos países desenvolvidos. No Brasil, segundo Macedo-Soares (1996, p.1) estima-se que alcance a marca de 7%.

Em que pese a importância dessa atividade para o desenvolvimento da economia e apesar de convivermos na Era da Informação, da robótica e das sofisticadas tecnologias, este setor apresenta dados desanimadores no tocante ao desperdício quer de materiais ou homens/hora (produtividade).

Levantamento realizado em 69 canteiros pela UFMG e outras 15 universidades brasileiras em 12 estados, confirma que os níveis de desperdício na construção civil continuam atingindo níveis preocupantes. Por exemplo, materiais como argamassa chega a apresentar 90% de perda. Entenda-se como desperdício não apenas o material refugado no canteiro, mas também toda e qualquer perda durante o processo. Portanto, qualquer utilização de recursos além do necessário à produção de determinado produto é caracterizada como desperdício.

De uma maneira geral os desperdícios atingem a percentagem da ordem de 20 a 30%. Trocando em miúdos em cada 100 prédios construídos se perde 30 prédios. Isto tem um significado importante no custo das obras e por via de consequência reflete-se no custo Brasil.

Identificam-se como fatores determinantes desse desempenho o desenvolvimento insuficiente de novas tecnologias, a baixa qualificação profissional e a falta de planejamento.

O engenheiro brasileiro planeja pouco resultando que o trabalho acaba sendo marcado pela improvisação.

Segundo Roberto Andrade, da Empa S.A, nos países desenvolvidos os engenheiros gastam seis meses na elaboração de um projeto cuja construção pode durar apenas 30 dias. No Brasil é exatamente o contrário.

Aqui os empresários do setor via de regra interessam-se mais por preços módicos que pela qualidade dos materiais.

Quanto à produtividade brasileira equivale a 32% da americana. Segundo Picchi a produtividade no Brasil é menor que um quinto da produtividade dos países industrializados.

Dados da empresa de consultoria McKinsey, essa baixa produtividade se deve à deficiência de planejamento e de gerenciamento de projetos, instabilidade macroeconômica, falta de mecanismos de financiamento de longo prazo e ausência de prestadores de serviços organizados, desenvolvimento insuficiente da indústria de materiais pré-fabricados e o baixo grau de automação.

No mundo atual cada empresário há que tomar consciência do papel social e ecológico de sua empresa. Por outro lado as empresas da construção civil precisam absorver a ideia que existe uma relação entre a produtividade e a qualidade de vida dos trabalhadores. Não se pode esperar qualidade e produtividade, por exemplo, de quem constrói moradias e não possui a sua, como o pedreiro Waldemar da canção de Wilson Batista:

Voce conhece o pedreiro Waldemar?

Não conhece?

Mas eu vou lhe apresentar

De madrugada toma o trem da Circular

Faz tanta casa e não tem casa pra morar

Leva marmita embrulhada no jornal

Se tem almoço, nem sempre tem jantar

O Waldemar que é mestre no oficio

Constrói um edifício

E depois não pode entrar



Como esperar qualidade no trabalho de pessoas que não têm perspectivas de melhoria na sua qualidade de vida?

Para que a mudança aconteça é preciso a adesão incondicional do empresário com novo foco comportamental.

Os programas de Gestão da Qualidade Total, que envolvem vários agentes internos e externos à organização, evidenciam-se como um instrumento eficaz na promoção da competitividade das empresas, agindo diretamente na produtividade (inovação tecnológica, qualificação do trabalhador e desperdício) com o contínuo aperfeiçoamento dos processos e produtos.

A engenharia civil, devido a interferência que promove na sociedade, precisa mais que nunca repensar os rumos que vem seguindo.

As empresas de construção civil precisam, mais do que nunca, repensar seu papel e o significado de sua produção para a sociedade e para a natureza.

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