Adão ultimamente andava meio entediado apesar do jardim do
éden ostentar uma atmosfera agradabilíssima com dias ensolarados e noites
estreladas, frias e prolongadas.
O desconfiômetro de Eva
aguçado pelo seu sexto sentido acusava que alguma coisa não andava bem.
Adão havia descoberto um novo vegetal que mudava seu humor e
por alguma razão o chamou de Cannabis. Esta experiência lhe induziu a se
interessar por outros tipos de erva e não fazia outra coisa durante o dia senão
provar cada folha que encontrava.
Para tentar distraí-lo Eva e os filhos Caim, Abel e Sete
organizaram um piquenique às margens do Rio Eufrates. Mal teve início o ágape
um fenômeno curioso e deslumbrante aconteceu no céu. Um espetáculo
indescritível formado por uma grande cortina estendida no horizonte formando
arcos que mudavam de cor e de forma
constantemente e com um brilho âmbar. Tratava-se do que viria a ser a Aurora
Boreal.
Enquanto Eva e os garotos se deleitavam com o espetáculo do
firmamento Adão aproximou-se de um novo vegetal e mais que de repente começou a
mascar suas folhas que estavam infestadas de claviceps purpurea o
esporão do centeio que produz efeitos alucinógenos.
Após alguns minutos Adão começou a sentir uma reação
estranha. Não conseguia se manter em pé, tudo em sua volta se movia. Sentia tonturas e uma sensação de desmaio.
Encostou-se a uma árvore.
Os familiares, absortos com o espetáculo celeste, continuavam
ignorando os acontecimentos.
Logo a harmonia transformou-se em algo aterrador. Tudo continuava
girando alucinadamente. As palmeiras dançavam com movimentos semelhantes às bailarinas havaianas dançando a Hula. As pedras assumiam
formas grotescas e ameaçadoras se atraiam e se repulsavam intermitentemente. Adão sentiu que um demônio
habitava seu corpo dominando seus sentidos e sua alma.
Com esforço
levantou-se e gritou para se libertar daquele ente demoníaco mas logo
voltou a cair impotente sobre a relva.
O demônio ria sarcasticamente realçando seu triunfo e
zombando das fraquezas de Adão. O grito, entretanto chamou atenção de Eva que
vendo o companheiro prostrado sobre o solo arrastou-o até o rio e o banhou.
Após o banho Adão sentiu que estava em outro mundo.
Experimentava um novo estágio vendo cores e formas se formarem por traz de seus
olhos fechados. Parecia um caleidoscópio fantástico com imagens exuberantes de
círculos e espirais entrecruzando-se continuamente. Os ruídos das folhagens e
outros sons produzidos por animais transformavam-se em sensações óticas. A cada
som emitido acontecia uma imagem diferente. Tudo lhe parecia mais belo que
antes.
Foi então que ao passar por uma gazela, de corpo esbelto,
pernas longas e chifres espiralados, não se conteve e entregou-se num idílio
amoroso com o animal culminando com um coito inesperado sob o olhar atônito de Eva.
Adão dormiu e acordou com a sensação de estar num mundo recém-criado.
Configurou-se assim o primeiro adultério da história da humanidade.
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