terça-feira, 18 de dezembro de 2012

BRAINSTORMING V


V

 Foram recebidos no Aeroporto Internacional Ministro Pistarini mais conhecido como Ezeiza por um pequeno comitê de recepção liderado por Paloma sendo de pronto assediada por um turbilhão de jornalistas e fotógrafos.

Dirigiram-se à casa de Carmen.

No trajeto Louise quis saber mais detalhes sobre o desaparecimento de Sarita.

Paloma narrou os atropelos com a polícia, as suspeitas de envolvimento de autoridades com o tráfico de pessoas, as testemunhas que assistiram o momento do seqüestro, telefonemas com  ameaças  de morte, tentativas de atropelamento, incêndio provocado em sua casa, a morte de seu pai Ortiz que sucumbiu vítima de um ataque cardíaco não resistindo ás pressões. Confidenciou que hoje em dia sua mãe vive sob constante escolta policial e que ela é seguida até a escola por agentes disfarçados que a acompanham diariamente.

Em pouco menos de uma hora uma Van os conduziu ao apartamento na Ricoleta.

Carmen Delgado os esperava no hall do apartamento. Era a imagem de um corpo cansado e sofrido. Sentada numa cadeira de rodas usando uma echarpe vermelha.

Após a apresentação demorou segurando a mão de Louise e com a voz embargada reafirmou sua esperança em encontrar Marita.

Enquanto se acomodavam Sanders começou a instalar a parafernália eletrônica que utilizava nas experiências e explicava aos repórteres e outros circunstantes os motivos que impediam que eles adentrassem o local da reunião.

Permaneceram na sala Louise, Sanders, Carmen, Paloma e o Sr. Perez Maldonado um psicólogo diretor do Instituto Andino de Parapsicologia.

Louise pediu que fizessem silencio e assumiu um ar grave.

-Fiz uma introspecção ao passado. Vejo uma jovem aparentando 18 a 20 anos sendo assediada por três indivíduos num carro vermelho. A porta do carro se abre. A jovem entra no veículo e toma rumo a uma grande avenida que da acesso ao aeroporto. A jovem e seus raptores embarcam num avião.

A medida que descrevia as ações de sua visão Louise não escondia as contrações musculares da face.

Louise se desculpa e interrompe a descrição. Estava bastante  abatida e aparentando cansaço.

Carmen mostrando-se impressionada com o relato de Louise comenta sobre o carro vermelho lembrando-se que algumas pessoas testemunharam o fato de Sarita ter sido abordada por indivíduos num caro vermelho.

- AS Nações Unidas estimam que o tráfico de pessoas movimenta mais de US$ trinta bilhões por ano.    Depois do comercio de drogas é o segundo mais lucrativo mercado ilícito da economia global. – observa Sanders.

Carmen comentou que já alimentava uma suspeita de que Sarita fora vítima de um seqüestro arquitetado por um vizinha enfermeira que trabalhava para uma rede de traficantes de pessoas, em Tucumán. A vizinha sempre negou peremptoriamente seu envolvimento no crime. Quando seqüestrada Sarita já tinha a filha Paloma por isso decidiu usar o Dispositivo Intrauterino (DIU) como método anticonceptivo. A enfermeira disse a Sarita que através de seu namorado que trabalhava numa maternidade tinha como poupá-la dos custos de uma clínica particular. O namorado da enfermeira era um boliviano que já fora acusado de tráfico de menores. Mesmo assim Sarita decidiu comparecer à maternidade na hora aprazada.

Foi então que se deu o acesso do carro vermelho e nunca mais se teve notícias dela.

Louise retomando o semblante austero novamente pediu silêncio e em poucos minutos voltou à descrição dos fatos.

- Vejo uma clareira numa floresta  colombiana. O local é um reduto da FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) uma organização terrorista que se auto intitula “Ejército Del Pueblo”. Um grupo guerrilheiro revolucionário retratado por Gabriel Garcia Márquez em “Cem Anos de Solidão” e que na década de 80 envolveu-se no tráfico ilícito de entorpecentes. Hoje controla parte do refino e distribuição de cocaína na Colômbia e como supridora dos EE.UU.

- Vejo a mesma jovem agora mais madura e mais gorda, talvez uns vinte e cinco a trinta anos, ao lado de uma pessoa que pode ser confundida como um guerrilheiro devido sua indumentária e portando  armas acintosamente.

 A jovem tem um escorpião tatuado no ombro esquerdo. - Louise se desculpa e novamente interrompe a descrição.

Não havia mais dúvidas. Carmem subitamente convenceu-se tratar-se da filha por conta do escorpião tatuado em seu ombro. A seu contra gosto Sarita, que nasceu em Novembro, resolveu tatuar-se com um artrópode ainda quando tinha 15 anos.

De imediato uma força tarefa com aval da ONU foi constituída e enviada à Colômbia.

O desfecho foi catastrófico para Carmem, mas pelo menos pôs um fim à sua via crúcis.

Em menos de uma semana o casal foi contatado em Caracas.

 A mulher realmente era Sarita que foi alvo de um processo criminoso de lavagem cerebral abolindo seus valores morais e éticos.

De início foi informante da FARC para escapar do assédio sexual. Foi ai que conheceu Raúl e dele se enamorou.

Raúl Jiménez tornou-se seu companheiro e protetor.

Sentindo-se sozinha e sem perspectiva Sarita, por influência maligna do companheiro, enveredou por caminhos obscuros.

Raul abandonou as fileiras da FARC e partiu para uma carreira solo.

Ingressou numa organização criminosa internacional especialista em negócios escusos como a comercialização de órgãos humanos e o tráfico de bebes recém nascidos. Ainda era sócio de uma holding  que explorava a virgindade e o comércio de apólices de seguros de vida de pessoas com doenças terminais que movimenta  mais de trinta bilhões de dólares por ano.

A repercussão do fato foi estonteante. Manchetes em toda mídia jornalística e televisiva do mundo inteiro.

Voltaram a ERREÓ com uma única interrogação que preocupava Sanders e principalmente Louise.

Suas vidas tornaram-se um inferno com o assédio das organizações mundiais e os milhares de pedidos solicitando seu concurso para desvendar mistérios.

O dia a dia não passava de um turbilhão de angústia e contrariedades.

Perderam o sossego e a individualidade.

Os fatos que protagonizaram quintuplicaram sua popularidade e demandavam pedidos de toda sorte e todos os quadrantes do planeta.

Conjecturaram  as mais estapafúrdias soluções para reconstituir o anonimato. Todas as soluções resultavam ineficazes ou impraticáveis. Pensaram numa plástica para assumir outra identidade, pensaram até em soluções radicais como a eutanásia. Foi quando Louise teve um sobressalto e vislumbrou a saída tão desejada.

-Professor Sanders - disse Louise com um ar vitorioso.

- Acabo de ter uma visão que põe fim a todas nossas preocupações.  

-Tudo isto que experimentamos é virtual.

- É fruto da imaginação de um engenheiro brasileiro, de Taperoá, aposentado que para preencher sua “dolce far niente” tem o hábito de escrever. Então nós não existimos. Não temos mais com que nos preocupar. Somos apenas marionetes manipuladas pela mente desse ancião que queria ser escritor.

C’est fini.

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