V
Foram recebidos no Aeroporto
Internacional Ministro Pistarini mais conhecido como Ezeiza por um pequeno comitê de recepção
liderado por Paloma sendo de pronto assediada por um turbilhão de jornalistas e
fotógrafos.
Dirigiram-se à casa de Carmen.
No trajeto Louise quis saber mais detalhes sobre o
desaparecimento de Sarita.
Paloma narrou os atropelos com a polícia, as suspeitas de
envolvimento de autoridades com o tráfico de pessoas, as testemunhas que
assistiram o momento do seqüestro, telefonemas com ameaças
de morte, tentativas de atropelamento, incêndio provocado em sua casa, a
morte de seu pai Ortiz que sucumbiu vítima de um ataque cardíaco não resistindo
ás pressões. Confidenciou que hoje em dia sua mãe vive sob constante escolta
policial e que ela é seguida até a escola por agentes disfarçados que a
acompanham diariamente.
Em pouco menos de uma hora uma Van os conduziu ao
apartamento na Ricoleta.
Carmen Delgado os esperava no hall do apartamento. Era a
imagem de um corpo cansado e sofrido. Sentada numa cadeira de rodas usando uma
echarpe vermelha.
Após a apresentação demorou segurando a mão de Louise e com
a voz embargada reafirmou sua esperança em encontrar Marita.
Enquanto se acomodavam Sanders começou a instalar a
parafernália eletrônica que utilizava nas experiências e explicava aos
repórteres e outros circunstantes os motivos que impediam que eles adentrassem
o local da reunião.
Permaneceram na sala Louise, Sanders, Carmen, Paloma e o Sr.
Perez Maldonado um psicólogo diretor do Instituto Andino de Parapsicologia.
Louise pediu que fizessem silencio e assumiu um ar grave.
-Fiz uma introspecção ao passado. Vejo uma jovem aparentando
18 a 20 anos sendo assediada por três indivíduos num carro vermelho. A porta do
carro se abre. A jovem entra no veículo e toma rumo a uma grande avenida que da
acesso ao aeroporto. A jovem e seus raptores embarcam num avião.
A medida que descrevia as ações de sua visão Louise não
escondia as contrações musculares da face.
Louise se desculpa e interrompe a descrição. Estava
bastante abatida e aparentando cansaço.
Carmen mostrando-se impressionada com o relato de Louise comenta
sobre o carro vermelho lembrando-se que algumas pessoas testemunharam o fato de
Sarita ter sido abordada por indivíduos num caro vermelho.
- AS Nações Unidas estimam que o tráfico de pessoas
movimenta mais de US$ trinta bilhões por ano.
Depois do comercio de drogas é o segundo mais lucrativo mercado ilícito
da economia global. – observa Sanders.
Carmen comentou que já alimentava uma suspeita de que Sarita
fora vítima de um seqüestro arquitetado por um vizinha enfermeira que
trabalhava para uma rede de traficantes de pessoas, em Tucumán. A vizinha
sempre negou peremptoriamente seu envolvimento no crime. Quando seqüestrada
Sarita já tinha a filha Paloma por isso decidiu usar o Dispositivo Intrauterino
(DIU) como método anticonceptivo. A enfermeira disse a Sarita que através de
seu namorado que trabalhava numa maternidade tinha como poupá-la dos custos de
uma clínica particular. O namorado da enfermeira era um boliviano que já fora
acusado de tráfico de menores. Mesmo assim Sarita decidiu comparecer à
maternidade na hora aprazada.
Foi então que se deu o acesso do carro vermelho e nunca mais
se teve notícias dela.
Louise retomando o semblante austero novamente pediu
silêncio e em poucos minutos voltou à descrição dos fatos.
- Vejo uma clareira numa floresta colombiana. O local é um reduto da FARC (Forças
Armadas Revolucionárias da Colômbia) uma organização terrorista que se auto
intitula “Ejército Del Pueblo”. Um grupo guerrilheiro revolucionário retratado
por Gabriel Garcia Márquez em “Cem Anos de Solidão” e que na década de 80
envolveu-se no tráfico ilícito de entorpecentes. Hoje controla parte do refino
e distribuição de cocaína na Colômbia e como supridora dos EE.UU.
- Vejo a mesma jovem agora mais madura e mais gorda, talvez
uns vinte e cinco a trinta anos, ao lado de uma pessoa que pode ser confundida como
um guerrilheiro devido sua indumentária e portando armas acintosamente.
A jovem tem um
escorpião tatuado no ombro esquerdo. - Louise se desculpa e novamente
interrompe a descrição.
Não havia mais dúvidas. Carmem subitamente convenceu-se
tratar-se da filha por conta do escorpião tatuado em seu ombro. A seu contra
gosto Sarita, que nasceu em Novembro, resolveu tatuar-se com um artrópode ainda
quando tinha 15 anos.
De imediato uma força tarefa com aval da ONU foi constituída
e enviada à Colômbia.
O desfecho foi catastrófico para Carmem, mas pelo menos pôs
um fim à sua via crúcis.
Em menos de uma semana o casal foi contatado em Caracas.
A mulher realmente
era Sarita que foi alvo de um processo criminoso de lavagem cerebral abolindo seus
valores morais e éticos.
De início foi informante da FARC para escapar do assédio
sexual. Foi ai que conheceu Raúl e dele se enamorou.
Raúl Jiménez tornou-se seu companheiro e protetor.
Sentindo-se sozinha e sem perspectiva Sarita, por influência
maligna do companheiro, enveredou por caminhos obscuros.
Raul abandonou as fileiras da FARC e partiu para uma
carreira solo.
Ingressou numa organização criminosa internacional
especialista em negócios escusos como a comercialização de órgãos humanos e o
tráfico de bebes recém nascidos. Ainda era sócio de uma holding que explorava a virgindade e o comércio de
apólices de seguros de vida de pessoas com doenças terminais que movimenta mais de trinta bilhões de dólares por ano.
A repercussão do fato foi estonteante. Manchetes em toda
mídia jornalística e televisiva do mundo inteiro.
Voltaram a ERREÓ com uma única interrogação que preocupava
Sanders e principalmente Louise.
Suas vidas tornaram-se um inferno com o assédio das organizações
mundiais e os milhares de pedidos solicitando seu concurso para desvendar
mistérios.
O dia a dia não passava de um turbilhão de angústia e
contrariedades.
Perderam o sossego e a individualidade.
Os fatos que protagonizaram quintuplicaram sua popularidade
e demandavam pedidos de toda sorte e todos os quadrantes do planeta.
Conjecturaram as mais
estapafúrdias soluções para reconstituir o anonimato. Todas as soluções
resultavam ineficazes ou impraticáveis. Pensaram numa plástica para assumir
outra identidade, pensaram até em soluções radicais como a eutanásia. Foi
quando Louise teve um sobressalto e vislumbrou a saída tão desejada.
-Professor Sanders - disse Louise com um ar vitorioso.
- Acabo de ter uma visão que põe fim a todas nossas
preocupações.
-Tudo isto que experimentamos é virtual.
- É fruto da imaginação de um engenheiro brasileiro, de
Taperoá, aposentado que para preencher sua “dolce far niente” tem o hábito de
escrever. Então nós não existimos. Não temos mais com que nos preocupar. Somos apenas
marionetes manipuladas pela mente desse ancião que queria ser escritor.
C’est fini.
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