quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Cantadores de Viola

Sempre admirei os trovadores populares e os entendo como instrumentos da história captando seus elementos.

Alguns na rudeza de sua escolaridade ultrapassam os limites acadêmicos e dominam os espaços e as ciências num saber cosmopolita e universal.

Com disse José Américo: “o trovador tem uma boca que não se cerra, na sua apresentação para não ser derrotado”.

Alguns se tornaram lendários como é o caso Ugulino do Sabugy primeiro poeta popular, Inácio da Catingueira, Cego Aderaldo, Zé Catôta, Jó Patriota, Cancão, Severino Pinto o maior de todos os poetas e os célebres irmãos Batista que pontificaram obras primas ao longo de sua trajetória artística.

Certa vez em Pombal, em companhia do Dr. Carneiro Arnaud, assistimos a uma festa maravilhosa onde se apresentou uma legião privilegiada desses poetas do repente.

Ali estavam João Furiba, Ivanildo Vila Nova, Oliveira de Panelas, Francisco Linhares e outros tantos que nos deleitaram com sua poesia espontânea, pura e cristalina. Era uma espécie de competição.

O que mais me chama atenção foi a presença de espírito dos poetas e a facilidade como captavam os elementos dos cenários vivenciados criando e descrevendo, de improviso, uma crônica poética do momento vivido.

A poesia popular é muito rica e encerra trinta e seis modalidades de gêneros que vão da Sextilha às Quadras, Quadrões, Martelos e Moirões, Galope a beira mar, Toadas e Gemedeira.

Destaco neste artigo o Martelo no gênero “que é que é que me falta fazer mais”.

Mês passado estive em Limoeiro do Norte onde conheci o Professor José Maria Guerreiro, membro da Academia Limoeirense de Letras, que me contou uma pérola sobre esta modalidade.

Uma determinada ocasião, em um dos canais da televisão cearense, os poetas Ivanildo Vila Nova e Oliveira Francisco de Panelas cantavam esse gênero e Oliveira improvisou esta estrofe:

Certo dia eu estando em Hollywood

E visitando Mallboro e Arizona,

Lá eu tive um encontro com Madonna

E fomos tomar banho de açude,

É que a bicha mostrou muita saúde

E eu também demonstrei ter muito gás,

E no uso das práticas sexuais

Eu fiz tudo com ela ao modo inglês

E depois perguntei em português

O que é que lhe falta fazer mais.

É uma estrofe gaiata, mas reproduz a verve e a sagacidade do cancioneiro de viola para o deleite de quem as ouve.

Nenhum comentário:

Postar um comentário