quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Praça Vidal de Negreiros

Quando nas praças se eleva
A Praça Vidal de NegreirosDo povo a sublime voz...
Um raio ilumina a treva
O Cristo assombra o algoz...
Que o gigante da calçada
Com pé sobre a barricada
Desgrenhado, enorme, e nu,
Em Roma é Catão ou Mário
É Jesus sobre o calvário,
É Garibaldi ou Kossuth
(Castro Alves, O Povo ao Poder)

O Palácio é o lugar do arbítrio do poder.
A Praça é o lugar da liberdade licenciosa ou como diria o Poeta: “a Praça é do povo como o céu é do condor”.
É muito fácil e cômodo criticar o que foi feito ou deixou de ser feito.
Na administração pública principalmente é comum este procedimento. Gostaria imensamente de evitar estes comentários mas no caso enfocado há uma razão de força maior.
Trata-se da reforma efetuada pela Prefeitura Municipal na Praça Vidal de Negreiros, em nossa Capital, o Ponto de Cem Réis, como é historicamente conhecida.
Outrora o logradouro estava para a cidade como a àgora para os antigos gregos.e foi palco de acontecimentos memoráveis. Ali era o ponto de encontro e convergência dos poetas, dos boêmios,dos populares que se reuniam para falar do governo, fazer negócios, disseminar fofocas e irreverências e falar da vida alheia. No seu entorno instalaram-se lanchonetes, bares, restaurantes, sorveterias, padarias, sinucas, hotel e boates. Ali se estabelecia a menor distância entre a individualidade e coletividade.
Hoje pela manhã, dia de aniversário da cidade, apresso-me para conhecer as reformas introduzidas na Praça pela Prefeitura.
Confesso que fiquei profundamente decepcionado. Esperava encontrar um cenário que retratasse um pouco a identidade do local. Encontrei um equipamento árido, sem ligação com a história nem com a plasticidade do ambiente. Uma ausência marcante do verde na cidade que pretende ser uma das mais arborizadas do planeta. Enfim um quadro monocromático e sem poesia. Não posso nem devo obscurecer que o atual Prefeito vem desenvolvendo uma administração exemplar, mas nossa querida cidade merecia um presente mais adequado.
Maurício Montenegro Rocha – Engenheiro Civil
O NOVO PONTO DE CEM REIS

A indignação não me abandona.
Continuo inconformado com a idéia de conviver com o “espantalho arquitetônico” em que foi transformada nossa Praça Vidal de Negreiros - o Ponto de Cem Reis.
A gestão da coisa pública envolve outros aspectos além dos preceitos da moralidade, da honestidade e da decência.
A intervenção num logradouro, por exemplo, deve satisfazer algumas premissas antes mesmo de seu planejamento.
A primeira condição é avaliar se a ação proposta atende uma função social e se a ela pode ser atribuída justificável prioridade.
Do ponto de vista espacial há que se observar diversos fatores, tais como, sua funcionalidade, o equilíbrio volumétrico e leveza de suas formas os aspectos paisagísticos e ambientais e, sobretudo, tratando-se de restauração, reformas, adequação ou reurbanização, a preservação dos seus valores culturais não deve ser desprezada.
A desobediência ou ignorar esses pré-requisitos expõe o administrador a uma situação passiva de críticas e demonstra seu total descompromisso com a história da cidade.
O que ocorreu na Praça Vidal de Negreiros foi uma solução de afogadilho, sem a participação da sociedade. O projeto teve a intenção de revitalizar uma área importante da cidade - o centro, palco de memoráveis episódios cívicos e o local mais importante de vivência da urbe.
Os métodos autocráticos da administração do município resultaram na implantação de uma solução que está mais para um remendo que uma restauração ou revitalização. Pecou na forma e no conteúdo.
Alguns teimam em não considerar o Ponto de Cem Reis como uma praça. Não esqueçam a semântica e consultem o Aurélio. (Praça lugar público cercado de edifícios). Por definição a praça é qualquer espaço público urbano livre de edificações e que propicie convivência e/ou recreação para seus usuários.
A idéia de praça normalmente está associada à presença de ajardinamento, sendo os espaços conhecidos por largos. Neste sentido, um largo é considerado uma "praça seca".
Os gregos tinham a ágora e os romanos o forum que eram espaços urbanos onde os cidadãos se reuniam para discutir e debater suas idéias. Ali exercitava-se a plena democracia. Assemelha-se hoje o que pra nos são as praças e com propriedade a Vidal de Negreiros.
Quer queiram ou não, a Praça Vidal de Negreiros é uma praça. Ponto final.
Inconformado reafirmo que a solução adotada pela Prefeitura municipal foi um remendo inadequado e como diria Asfóras um “zumbi”, uma assombração arquitetônica, um adereço indesejável. Resta-me a esperança de que o poder sendo efêmero sua alternância permita o surgimento de uma inteligência que não seja uma unanimidade mas que preserve os valores culturais de nossa cidade e conserte o feito .
Maurício Montenegro Rocha – Engº Civil

2 comentários:

  1. Nem sei ao certo há quanto tempo escuto termos como: sustentabilidade, ecologicamente correto, aquecimento global. Existem campanhas para pintar o telhado de branco, plantar mais árvores. Me pergunto se quem planejou essa praça "seca" nunca escutou tudo isso também. Pelo visto, não. Uma pena, quem perdeu foram todos os pessoenses. Por onde andou esse SER que não se preucupou com o verde? Logo o verde símbolo da esperança! Para mim, beleza no concreto, só com o Niemeyer e ainda assim ele prima pelo VERDE.

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  2. Considerando a mancada presidencial de hoje comentando que Cristo se aliaria a Judas, será que o Presidente Lula faria um pacto com o capeta?

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