sábado, 5 de novembro de 2011

DO FUNDO DO BAU V

AS FRENTES DE EMERGÊNCIA E O AVIÃO DO GOVERNADOR


Recebi instruções para dirigir-me a Princesa Isabel averiguar ameaças de invasão pelos ruralistas.

Logo que cheguei percebi a aproximação de grupos vindos de várias partes da cidade os comerciantes locais começaram a cerrar as portas de seus estabelecimentos.

Corro para uma coletoria estadual onde havia uma estação de rádio SSB único meio de comunicação disponível.

Tento contato com o DER para descrever a situação e solicitar autorização para abertura de mais uma frente de emergência.

Nesse ínterim uma voz interrompe minha chamada.

-Papa tango eco eco Charlie, procedente de João Pessoa, tem preferência na faixa.

Era o avião do Governador para avisar de sua chegada. Pressionado pela situação de emergência em que me encontrava, respondi:

- Preferência porra nenhuma. Preferência tenho eu que estou aqui num sufoco, tentando arrego, vendo a cidade ser invadida.

Meses depois o Governador faz uma visita às frentes de emergência e num almoço em Itaporanga chama o Engº Guilherme Vilar e pergunta:

Guilherme quero falar com o engenheiro responsável pelos serviços aqui em Itaporanga.

Dr. Guilherme me apresenta ao Governador.

O Governador mandou-me sentar e massageando um sinal cutâneo, gesto que lhe era peculiar, com voz pausada me interpelou:

- Engenheiro esse serviço de rádio amador é uma coisa muito boa para facilitar a comunicação, não é verdade?. Mas existe um órgão chamado Dentel que normatiza e fiscaliza sua utilização. A primeira coisa que se deve ter em conta ao utilizar esse serviço é usar uma fraseologia educada. Não se deve falar palavrões que no mínimo denota falta de educação.

.Acho que o Senhor sabe a que me refiro.

A cada frase eu afundava na cadeira desconcertado sem saber para onde olhar.

No final admiti que sabia do que se tratava e garanti que o ocorrido não mais se repetiria e nada mais sendo dito me retirei.

Já na porta ao sair do local do encontro ouvi a voz do governador a mim dirigida num tom pra que todos escutassem:

- Engenheiro!

- Quero que saiba que se eu estivesse no seu lugar naquela ocasião teria agido da mesma maneira. Pra mim soou como um elogio.

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