segunda-feira, 10 de maio de 2010

Cidade sem muros.

Lembro-me de um episódio que ocorreu há muitos anos atrás.
Aconteceu durante a visita de uma jovem americana, primeira esposa do meu amigo Eduardinho (Eduardo Magalhães).
Fazíamos um tour onde eu lhe mostrava as belezas de nossa capital e inadvertidamente joguei uma carteira de cigarros vazia pela janela do carro.

-Será que não vás ser multado? – indagou a Becky (era esse seu nome familiar).

Expliquei que ainda não havíamos atingido aquele nível de educação e que a prática embora questionada em seu país aqui era ignorada.

Lá pras tantas novamente outra pergunta de Becky me deixou pensativo.

- Por que todas as casas têm muros e para que servem?

Tentei uma explicação plausível reportando-me a razões de segurança e questões culturais de posse e propriedade.

Ela permaneceu calada e indiferente sem esboçar qualquer reação de aprovação ou desacordo.

Hoje, lembrando esse fato comecei a imaginar uma cidade sem muros.

Por exemplo, o que aconteceria se João Pessoa não tivesse muros.

Um cálculo empírico nos remete a uma conclusão interessante.

João Pessoa tem hoje aproximadamente 700 mil habitantes ocupando cerca de 160 mil residências.

Considerando o lote urbano padrão precisaríamos, em números redondos, 9.000.000 de metros lineares de muro para contornar ou isolar todas as habitações.

A construção desses muros, admitindo-se um padrão simples de acabamento (reboco e caiação), significaria um investimento da ordem de 1,8 trilhões de Reais, aos preços hoje praticados.

Imagine esse recurso aplicado na construção de casas populares.

Caso isto acontecesse resultaria na edificação de 36.000 casas o que certamente bastaria para zerar o déficit habitacional da capital ou chegaria muito perto.

Esse é o preço que se paga pela maldade e desconfiança reinante no coração dos homens.

Um comentário:

  1. Sabe tio, acho que os muros hoje é uma questão cultural. Esta uma opinião muito particular. Vivemos numa sociedade cada dia mais individualista. Outro dia conversando com meu querido esposo, da vontade de morar em casa, haja vista ter morado a vida inteira em casa de como seria bom ir para um condomínio fechado, entretanto me desagradou a ideia de casa sem muro, sem privacidade e desisti.
    Chegamos ao pós-modernismo, onde há invasão de nossa privacidade a todo momento e acabamos buscando de minimizar esta invasão.

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