sábado, 20 de março de 2010

A falésia do Cabo Branco.

Tenho assistido pela TV vários pronunciamentos de geógrafos, ambientalistas, engenheiros, e outros especialistas sugerindo medidas para proteção da falésia do Cabo Branco.


A ação das intempéries naquele acidente geográfico tem preocupado muitos estudiosos e administradores públicos.

Esta questão remonta há muitos anos.

Na administração do Prefeito Carneiro Arnaud (1986/89) elaborou-se um projeto objetivando este propósito. O projeto constava de enrocamentos no pé da barreira (quebra-mares) encimado por uma via contornando o Cabo e a construção de molhes.

Tudo foi cuidadosamente elaborado para ser apresentado ao Dr. Celso Furtado, paraibano de Pombal, à época Ministro da Cultura do Presidente Sarney, que estava visitando João Pessoa.

No dia aprazado uma grande comitiva composta pelo Prefeito, Secretários municipais, Jornalistas, e outros circunstantes dirigiu-se ao Farol onde os técnicos da Prefeitura iriam apresentar o projeto com o objetivo de obter recursos federais para seu financiamento.

Na qualidade de Secretário de Obras fui incumbido desta missão.

Abri o projeto sobre o capus de uma camionete e antes que eu concluísse a argumentação fui interpelado pelo Ministro:

- Vocês fizerem estudos simulados com modelos reduzidos para conhecer a eficácia desse projeto e as conseqüências de sua influência nas correntes marinhas?

- Infelizmente não Senhor Ministro – respondi e acrescentei:

- Desconheço a existência de um laboratório, aqui no Brasil, para realização destes testes. Acho que só existe no Laboratório Nacional de Engenharia Civil em Lisboa.

- Mas é importante que se tenha essas informações – insistiu o Dr. Celso.

- O Senhor conhece a Riviera Francesa, no Mar Mediterrâneo? Lá estão as mais luxuosas, as mais caras e sofisticadas áreas do mundo. O seu relevo vive em constante mutação em razão das erosões marinhas – acrescentou o Ministro.

- Precisamos ter mais cuidado com nosso ufanismo. Precisamos nos convencer e se acostumar com a idéia de que hoje nós temos aqui o ponto mais oriental das Américas. Mas será assim amanhã?

À medida que o Ministro dissertava seus conhecimentos oceanográficos fui tomando ciência que o projeto havia afundado ali mesmo.

Depois desses comentários houve um pequeno silêncio, a reunião foi dispersa, dobrei os papeis e todos nós voltamos às lides costumeiras.

O projeto foi adiado para aprofundamento dos estudos de viabilidade técnica, até hoje.

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