quinta-feira, 11 de março de 2010

Meu pai.

Meu pai chamava-se Abel. Nasceu em Itambé, Pernambucano, em 1912.


De família humilde, o comerciante José Alves Rocha, seu pai e Francisca de Albuquerque Montenegro, sua mãe.

Tinha dois irmãos: Dulcinete e Jaime.

Conheci os dois. Dulcinete com quem convivi tinha um pendor natural pela pintura e de Jaime guardo uma vaga lembrança de infância.

Meu pai casou duas vezes.

Do primeiro matrimônio, com minha mãe, Maria do Carmo, familiarmente conhecida como D. Liquinha, nasceram seis filhos: Eu , Cláudio, Meinardo, Eleonora(Nora), Dagmar (Maza) e o caçula Hélio . Entretanto eu fui na realidade o sétimo filho pois os seis primeiros não se criaram e faleceram ainda lactentes

Seis anos após o falecimento de minha mãe, em 14 de maio de 1968, meu pai casou pela segunda vez e dessa nova união nasceram três filhos: Jarbas, Abel e Germana.

Meu pai cultivava duas paixões na vida, a leitura e a maçonaria.

Era um autodidata por excelência.

Exerceu uma profissão hoje extinta, classificador de algodão (análise das fibras do algodão herbáceo com fins de uma classificação).

Homem de temperamento forte, centralizador e muito apegado à família.

Com os filhos mantinha uma relação um pouco distante comparando-se com os padrões atuais.

Não nos era permitido uma intimidade. O respeito à autoridade paterna exigia um comportamento um tanto quanto cerimonioso.

Guardo uma lembrança nítida, na infância, quando ele nos levava à Solânea para cortar o cabelo ou quando, na juventude, nos conduzia pelo braço, ao comércio na Duque de Caxias para comprar sapatos.

Tinha seus próprios métodos ou estratégias de persuasão. Por exemplo, imaginemos que ele quisesse pintar a casa de azul. Consultava minha mãe sobre a cor. Rechaçava, com argumentos fúteis, todas as cores sugeridas por ela que não fosse o azul.

Até que minha mãe após várias alternativas sugeria:

- Que tal o azul?

Ele prontamente concordava deixando claro que a cor tinha sido escolhida por ela.

Resumo da ópera: a cor foi escolhida por minha mãe desde que fosse a que ele desejava.

Era pouco apegado aos esportes e avesso às bebidas alcoólicas salvo no carnaval quando ele se permitia ingerir algumas doses.

Questionava o desgaste do salto do sapato acentuadamente no mesmo lado. Segundo seus critérios este fato traduzia uma fraqueza de caráter.

A postura corporal era outro assunto relevante nas suas análises. Esperar o ônibus numa parada com o joelho flexionado e o pé encostado na parede denunciava irresponsabilidade.

Homem de poucos vícios. Veio a ser fumante já ingresso na terceira idade.

Raramente ouvia música. Nunca o ouvi assobiar ou cantarolar uma canção.

Exotérico e apaixonado pela Maçonaria. Em 1967 fundou, em João Pessoa, uma facção dos Rosa Cruzes.

Foi o primeiro Mestre desse Organismo.

Na Maçonaria ocupou os mais relevantes cargos de sua hierarquia.

Financeiramente teve altos e baixos.

Sucedendo suas atividades como funcionário público aventurou-se na iniciativa privada.

Houve um período de profusão econômica.

Incursionou no comércio varejista, no ramo de alumínio e tecidos.

Foi gerente de um grupo industrial, Abílio Dantas & Cia, que explorava o ramo têxtil, no beneficiamento de sisal e algodão.

No início da década de 50 veio para João Pessoa.

Tenho que admitir que ele não foi uma pessoa previdente.

No final da vida, acometido de Parkinson passou por vexames e dificuldades financeiras.

Faleceu em no dia 06 de agosto de 1987.

Quero concluir afirmando que ele foi um homem de caráter ilibado, de conduta retilínea, de méritos extraordinários, de quem me orgulho e me ufano de ser filho.

Sinto profundamente não ter aproveitado as oportunidades que me foram dadas para ter aprendido com ele muito mais sobre os mistérios da vida.

3 comentários:

  1. Tio Mauricio,
    muito bonita essa sua homenagem sobre o seu pai! Gostei de conehcer algo sobre ele!
    bjos

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  2. Maria Julia Ferrer.juju.ferrer@14 de março de 2010 às 20:42

    Mauricio,parabens pela homenagem justa a seu Abel, Leba como dizia Hortencio.

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  3. Maria Julia Ferrer. juju.ferrer@yahoo.com.br15 de março de 2010 às 08:10

    mauricio,parabens pela homenagem a seu Abel, Leba como o chamava Hortencio era realmente uma pessoa especial. Maria Julia.

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