quinta-feira, 15 de abril de 2010
Rebolation.
Em que pensava Sivuca ao interpretar “Quando me lembro” de Luperce Miranda?
Lembrava talvez o menino sambudo banhando-se nas águas barrentas do Paraíba, em Itabaiana.Quem sabe lembrava sua estimada Glorinha, companheira e amiga. Ou ainda das ruas enladeiradas de Lisboa, ou de suas passagens pela Escandinávia, Nova York ou Paris.
O fato é que em sua interpretação penetrava na alma do compositor como se fosse um espírito de luz formado de fusas e semifusas.
Em que pensava Ravel quando compôs seu famoso Bolero?
Provavelmente em sua amiga e bailarina Ida Rubinstein para quem compôs a obra que é um tributo sonoro em busca da perfeição rítmica.
Ou talvez pensasse em suas origens bascas ou mesmo nos prazeres da gastronomia e nos pratos exóticos orientais que tanto apreciava. Ou quem sabe no seu jardim japonês.
Em que pensava Beethoven quando compôs a 5ª Sinfonia?
Talvez nos ideais da Revolução Francesa.
As quatro notas de sua introdução majestosa produzem um momento impactante e poderoso numa dimensão musical inusitada. Nascida de um gênio fisicamente incapaz de ouvir sua maravilhosa criação. O maior compositor de todos os tempos talvez pensasse em uma de suas amantes ou somente em Antonia Brentano sua amada imortal.
Em que pensava Chopin quando compôs a Polonaise?
Um dos músicos mais enigmáticos da história talvez pensasse em sua Varsóvia derrotada pelos cossacos. Ou no seu exílio profissional preferindo permanecer em Paris (apesar de patriota) onde o ambiente musical era propício e vital para sua arte. Ou ainda pudesse pensar na feminista George Sand, colecionadora de amantes célebres, fumando seus charutos cubanos em público e chocando a tradicionalista elite parisiense. Talvez pensasse também no marquês de Custine que lhe cortejava e cujas cartas encerrava escrevendo “beijo-te na boca”.
Em que pensava Villa-Lobos quando compôs as Bachianas.
O maior compositor brasileiro talvez pensasse na riqueza folclórica do seu país. Nos encantos de sua musicalidade, na diversificação e singularidade dos instrumentos de percussão, como o ganzá, chocalhos, pandeiro, reco-reco e maracá, além do triângulo, pratos, tantã e bombo. Ninguém foi tão brasileiro e tão universal quanto ele.
Em que pensava Pixinguinha quando compôs Carinhoso?
Alfredo Pixinguinha, flautista virtuoso e compositor genial certamente pensava numa mulher escultural e sedutora. Num amor frenético mal compreendido.
Ou talvez em sua adorável esposa D. Betty ou no bar Gouveia, no centro do Rio, onde mantinha cadeira e copos cativos na companhia dos amigos Donga e João da Baiana.
Em que pensava o compositor da Banda Parangolé quando compôs o Rebolation?
Em nada.
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