sábado, 10 de outubro de 2009

Ciladas do Vernáculo

Quantas ciladas nos arma este idiomazinho de Garret e Camões. É um verdadeiro desafio, tanto para os nativos e muito mais para os dalem mar, não é verdade?
Quantas vezes nos conduzem a situações ora incomodas, ora jocosas.
Qualquer descuido, uma concordância nos pega pelo pé e lá vem um “esse” ou um “zê” nos trair.
No colóquio, às vezes, parece que lidamos com outro idioma quando nos deparamos com o regionalismo.
- Seu Pedro, esse é meu filho mais velho e está estudando para ser engenheiro.
“Seu” Pedro era o administrador de uma propriedade que meu pai adquiriu em Alhandra. Era um homem rude e arraigado à terra, nascido em Alhandra, jamais conhecera a capital, apesar da curtíssima distância.
- Seu moço... Aprecio muito quem tem leitura, mas só sei lê o macamei. Me traga um da próxima vez que vier a Santa Terezinha. (nome do sítio)
Voltei alguns meses depois e de cara “Seu” Pedro cobrou-me o “macamei”.
Entre encabulado e de certa forma desorientado pedi auxílio ao meu pai para descobrir o que realmente “seu” Pedro desejava.
Conversa vai, conversa vem, ele queria um calendário.
Certo dia um companheiro de trabalho sentiu-se altamente lisonjeado, quando foi apresentado a um visitante, como sendo um dos maiores apedeutas da organização.
- Nada, isso é bondade do amigo.
A pompa do adjetivo lhe impressionou e diante de sua incontida euforia não me senti a vontade para explicar-lhe o verdadeiro sentido do vocábulo, que no popular significa, pessoa sem instrução, ignorante, etc. (agora ele sabe).
Já perceberam como os galicismos e anglicismos dão um toque refinado na conversação?
Já observaram como uma expressão tupiniquim adquire, numa metamorfose galvânica, um status intelectual?
São recursos bastante utilizados no economês, Feed Back, Know how, savoir-faire, etc.
Não pense algum leitor que tenha tido a paciência de ter lido até aqui, que eu seja um xenófobo ultrapassado. Bem que algumas vezes utilizo tais recursos e até mesmo para desconsertar os incautos, como assisti, em certa ocasião, com o Prof. Wanderley Rosato, ex-Diretor da Saelpa.
Estávamos num papo descontraído numa roda social, quando o renomado otorrino Ramonilson Arruda pergunta ao Professor qual era a sua cidade natal. Professor Rosato usando sua marca registrada com um pequeno tempero de irreverência, respondeu, “sou de Stone River”.
Ramonilson já começou a olhar par o Professor pensando com seus botões: “ O homem é estrangeiro, outra cultura e coisa e tal”,. Sem dar tempo a que o velho Ramon (assim o tratamos na intimidade) tomasse a respiração, o Professor completou: Stone River é Rio das Pedras. Fica ali pertinho de Piracicaba, no interior de São Paulo.
Outra ocasião discutia-se sobre a criação de cães e cada um dos presentes que enaltecesse o pedigree de seu fila, de seu dálmata, de seu terrier.
Fui interpelado: - Você tem cachorro?
-Tenho.
- Qual a raça?
- Dog street.
-Não conheço.
- Conhece. É vira lata mesmo.

2 comentários:

  1. Não questiono absolutamente as qualidades do agraciado, mas achei a indicação do Pres. Obama para o Nobel da Paz um tanto quanto populista.

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  2. Concordo contigo neste comentário.
    Se intenção fosse fato o nosso Brasil estaria cheio de heróis.
    Paz?Aonde? Enquanto ele tenta organizar a retirada dos soldados do Iraque,o Afeganistão está em ebuliçaõ.E o Teerã,Israel e Irã?O que sei é que o Oriente Médio vivem um imenso conflito

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